Estado policial

Aras dá aval a dossiê contra ‘antifascistas’ opositores do governo

“Estado de exceção virou norma”, criticou o cientista político Paulo Niccoli Ramirez. Ele lembrou que investigações sobre a vida pessoal de opositores era uma prática nazista

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Aras não vê problemas na perseguição a opositores de Bolsonaro

São Paulo – O procurador-geral da República, Augusto Aras, defendeu como “normal” o dossiê elaborado pelo ministério da Justiça contra servidores autointitulados “antifascistas”. Ele afirmou que o Ministério Público Federal (MPF) “não admite espionagem”. Mas justificou que os dados foram reunidos a partir de fontes públicas para avaliar “cenários de risco”.

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar nesta quarta-feira (19) uma ação do partido Rede Sustentabilidade que questiona a legalidade da produção desse tipo de documento.

Contudo, o próprio ministro da Justiça afirmou que mantém afastado um servidor, enquanto aguarda a conclusão de inquérito administrativo, que teria sido o responsável pela elaboração do material. No dossiê avalizado por Aras, estão compiladas informações pessoais de 579 servidores, dentre professores universitários e policiais antifascistas.

Normalização do absurdo

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), a postura do procurador-geral é uma tentativa de “normalizar” o estado de exceção. A produção desse tipo de relatório, segundo ele, é um ataque aos direitos à liberdade de expressão e de associação.

Além disso, a perseguição a grupos antifascistas é um reconhecimento das tendências fascistas do próprio governo Bolsonaro. Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (20), Ramirez lembrou que a produção de relatórios de inteligência contra opositores era uma prática comum na Alemanha nazista.

“Cada vez mais, sobretudo com esse dossiê, o governo Bolsonaro tem tomado atitudes autoritárias e policialescas. Não podemos esquecer que a Gestapo, a polícia secreta alemã, realizava esse tipo de investigação da vida privada dos indivíduos e suas opiniões”, afirmou.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima