Enrolado na corda

Golpismo de Bolsonaro é ‘blefe’ de um presidente acuado, diz analista

Após a prisão de Queiroz, cientista político Claudio Couto afirma que reação de Bolsonaro é imprevisível. Pode tanto promover uma escalada das tensões como recuar

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Ameaças de ruptura institucional são reações de "alguém que está acuado e precisa blefar"

São Paulo – A escalada autoritária do presidente Jair Bolsonaro, mais do que força, revela uma figura acuada. Nos últimos dias, ele também demonstrou irritação com os próprios apoiadores no “chiqueirinho” do Palácio do Alvorada.

Além da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, em imóvel pertencente ao advogado Frederick Wassef, a Polícia Civil do Rio de Janeiro fez buscas na casa de Alessandra Esteves Marins, que também faz parte da equipe de apoio de Flávio. A justificativa para a prisão preventiva de Queiroz é que ele poderia atrapalhar as investigações.

Segundo as investigações, Alessandra repassou cerca de R$ 19 mil a Queiroz. Sua casa, em Bento Ribeiro, zona Norte do Rio de Janeiro, é vizinha de imóvel utilizado como comitê eleitoral pela campanha de Bolsonaro. A propriedade consta na declaração de bens do atual presidente.

Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, o cientista político Cláudio Couto diz que é difícil prever a reação do presidente. Ele pode tanto promover a escalada do conflito, como executar um “recuo tático”, diante das ações policiais ocorridas. O “morde e assopra” é uma tática utilizada desde os tempos de deputado federal, destacou o analista, que é professor da Fundação Getulio Vargas.

“Ele demonstra irritação, porque a sua situação vai se tornando mais difícil. Inclusive as ameaças veladas, ou nem tão veladas, de golpe militar ou algum tipo de intervenção, me parecem ser claramente a reação de alguém que está acuado e precisa blefar. Precisa assustar os seus opositores e aqueles que agem limitando os seus excessos.”

As ameaças

Na última sexta-feira (12), Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva divulgaram nota dizendo que as Forças Armadas não aceitariam “tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República”. Foi uma reação a uma decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que afirmou que os militares não têm a prerrogativa de atuar como “poder moderador“.

No final de semana, o ministro da Secretaria de Governo, General Luiz Eduardo Ramos, em entrevista à revista Veja, disse que Bolsonaro “nunca pregou o golpe”. Contudo, ameaçou: “O outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”.

Novos alvos

Couto também afirma que o capítulo desta quinta deve confundir os alvos dos ataques da base bolsonarista. Antes, tinham na mira o Supremo Tribunal Federal (STF), em função do inquérito que investiga o esquema de fake news. E outro que apura a participação de parlamentares nos atos antidemocráticos.

Mas a prisão de Queiroz foi resultado da ação conjunto das Policiais Civis e dos Ministérios Públicos do Rio de Janeiro e São Paulo. “Se os bolsonaristas continuam achando que estão sendo perseguidos, não vão poder se queixar só do Supremo.”

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira


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