Cova dos leões

Pelo que pode revelar sobre a família Bolsonaro, prisão de Queiroz é ‘xeque-mate’

Avaliação é do cientista político Paulo Niccoli Ramirez. “Prenderam o indivíduo que mais sabe e que pode dar pista sobre vários casos”, diz, citando as rachadinhas, Marielle e a campanha eleitoral

Wilson Dias/EBC
Wilson Dias/EBC
Família Bolsonaro ainda deve usar da prisão para reafirmar narrativa de "perseguição política judicial", acentuando o tom contra a democracia

São Paulo – Após uma semana tumultuada para o governo de Jair Bolsonaro no âmbito dos sistemas de Justiça, a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro, marca o “auge dessas questões”, na avaliação do cientista político Paulo Niccoli Ramirez. 

Em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, Ramirez compara que “se isso fosse um jogo de xadrez, por tudo o que tem acontecido nos últimos meses, a prisão de Queiroz é como se fosse um xeque-mate”, afirma.

Queiroz foi preso na manhã desta quinta-feira (18) em Atibaia, interior de São Paulo. Numa semana em que figuras bolsonaristas, incluindo parlamentares, estão sendo alvo de dois inquéritos que apuram sobre fake news contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e atos antidemocráticos.

O ex-assessor foi preso em um imóvel do advogado Frederick Wasseff, homem de confiança e com fácil acesso à família Bolsonaro. Policial militar aposentado, Queiroz é investigado pela suspeita de comandar um esquema de “rachadinha”, em que desviava parte dos salários dos servidores do gabinete do filho de Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). 

Implicações

Sua prisão, contudo, pode levar ainda a outras implicações, na avaliação do cientista político. “Prenderam o indivíduo que mais sabe sobre a família Bolsonaro e quem pode dar pista sobre vários casos que envolvem não só as rachadinhas, mas quem sabe até a Marielle”, observa. 

Colega de profissão, Queiroz também era amigo do ex-policial Adriano da Nóbrega, acusado de comandar o grupo miliciano Escritório do Crime – de onde teria partido a ordem para assassinar a vereadora. Nóbrega foi morto em fevereiro. Tornando o ex-assessor uma peça chave para elucidar as relações entre o clã Bolsonaro e as milícias fluminenses. Mas não apenas, destaca Ramirez. 

“E os últimos acontecimentos (também), porque a gente não pode esquecer que o próprio Queiroz participa da campanha eleitoral de Bolsonaro, ele foi um dos articulares. E talvez ele também saiba questões em torno das fake news ou dinheiro de empresários que influenciaram na vitória de Bolsonaro”, avalia, sobre outra investigação em curso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

A narrativa da perseguição

A notícia da prisão agora atinge “o calcanhar de Aquiles de Bolsonaro, afinal de contas, Queiroz é uma figura muito próxima da família (…) e ele preso pode abrir a boca e talvez, eventualmente com uma delação premiada e negociando a redução de sua pena, isso pode abrir literalmente as portas do inferno para Bolsonaro”, diz o cientista político. 

O presidente da República, no entanto, deve usar do caso para reafirmar a narrativa de “perseguição política judicial”, que vem destacando para se defender de acusações contra ele e sua família. Bolsonaro já deixou claro, em reunião ministerial, que interviria para impedir que investigações chegassem próximas ao seu entorno. Além de vir cada vez mais acentuando o tom de críticas às instituições jurídicas do país. 

“Acredito que em algumas horas veremos os Bolsonaro, pai e os três filhos, mais uma vez falando em ruptura institucional, dizendo que é um abuso da Polícia Federal. Mas a Polícia Federal está fazendo seu papel”, finaliza Ramirez.

Nos bastidores do Planalto, interlocutores do governo também confirmam que a prisão de Queiroz é vista como “pólvora” para a família Bolsonaro.

Confira a entrevista na íntegra