Braço forte

Sem apoio dos militares, Bolsonaro seria ‘renunciado’, afirma cientista político

De acordo com doutor em História pela Universidade de Paris, militares discordariam da atuação do governo no combate à pandemia, mas mantêm apoio por afinidades ideológicas

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Na economia, militares abandonaram nacionalismo e se tornaram "profundamente neoliberais", o que também explica o apoio a Bolsonaro

São Paulo – O cientista político Manuel Domingos Neto acredita que as Forças Armadas não devem “intervir” para “livrar a cara” do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, ele afirma que os militares “têm dificuldades em admitir”, mas ainda apoiam o atual presidente em função das suas afinidades ideológicas. O principal ponto de atrito, segundo ele, seria a atuação “genocida” de Bolsonaro no combate à pandemia do coronavírus.

Domingos Neto, doutor em História pela Universidade de Paris e professor de Ciência Política da Universidade Estadual do Ceará (UFC), afirma que o apoio popular ao presidente vai definir os rumos a serem adotado pelos militares. “Se esse apoio tivesse caído muito, ele já teria sido ‘renunciado.”

“A atitude mais clara de rejeição, da parte dos militares, seria abandonar o governo. Não é preciso dar golpe, nem fazer nada. Basta pedir demissão. Basta as Forças Armadas contrariarem de forma mais explícita essa política genocida do Bolsonaro, relativa ao coronavírus, que a coisa estaria praticamente resolvida. Ele não teria como continuar governando sem esse pilar”, afirmou, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (6).

Estudioso da atuação dos militares, o cientista político afirma que as Forças Armadas compreendem a gravidade da pandemia, diferentemente do presidente. “A peste e a guerra sempre andaram juntas. O esforço que as Forças Armadas fazem em defesa sanitária é superior. Aqui, e em qualquer lugar do mundo”, destacou.

Confira a íntegra da entrevista

Afinidades

Segundo Domingos Neto, o conjunto dos militares, das mais baixas às altas patentes, da ativa e da reserva, viram em Bolsonaro um “instrumento” para derrotar a esquerda, no processo eleitoral. Eles “nunca se sujeitaram” e permaneceram “indóceis”, por conta da Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída durante o governo Dilma para investigar o crimes cometidos durante a ditadura.

A chegada ao poder, junto com Bolsonaro, também serviria para resolver um contencioso com os civis, que vem desde a Assembleia Constituinte, quando a classe política tentou impor limites à atuação das Forças Armadas.

Além disso, Domingos Neto afirma que, na agenda econômica, o “pensamento nacionalista” está “desaparecido” entre os militares, que se tornaram “profundamente neoliberais”.