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Requião: ‘A morte de brasileiros, para eles, é efeito colateral’

Em live nesta segunda-feira (25), o ex-senador e o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) debateram as crises sanitária, econômica e política do Brasil

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Projeto de Paulo Guedes é ‘endividar o Estado e depois vender tudo’, diz Teixeira

São Paulo – Em live transmitida no final da tarde de hoje (25), o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) debateu a crise brasileira com o ex-senador Roberto Requião. Segundo o ex-governador do Paraná, a reunião ministerial de 22 de abril de Jair Bolsonaro e seu ministério, confirmou que, para o mercado financeiro e os governistas, “a morte de trabalhadores e brasileiros (na pandemia de covid-19) é efeito colateral”. Ele comparou

“Ele (Bolsonaro) está querendo um pretexto para as pessoas saírem de casa, suportadas na ilusão de que a cloroquina pode livrá-las de um acidente maior com o coronavírus que leve a óbito. Está usando isso para tirar as pessoas de casa e acelerar a contaminação”, disse. O objetivo é “salvar o sistema econômico financeiro”, cujo único interesse é o fim da pandemia.

Requião lembrou que, nesta segunda, a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu os testes com a cloroquina como medicamento eficiente contra a covid-19.

Para Requião – que comparou a reunião da cúpula do governo Bolsonaro ao “Bataclan”, o cabaré em que se passa boa parte do romance Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado –, a insensibilidade foi manifestada principalmente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao defender investimento nas grandes empresas e deixar as micro e pequenas à própria sorte. “Nós vamos botar dinheiro, e vai dar certo e nós vamos ganhar dinheiro. Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, disse o ministro na reunião.

Questionado por Teixeira sobre quem “caberia” em uma frente democrática para combater o governo Bolsonaro, Requião respondeu: “Todo mundo que não quer um Banco Central (BC) independente. Não posso aceitar quem proponha o BC independente. Quem for a favor do capital financeiro não entra nessa frente. Eles terão os bancos, o dinheiro e a mídia que eles sustentam”. Na opinião do ex-senador, “Fernando Henrique não cabe” na frente democrática.

Requião questionou o silêncio dos militares diante dos desmandos e da postura de Bolsonaro. “Onde estão os militares brasileiros? Geisel era autoritário, mas era nacionalista”, disse, citando o ex-presidente Ernesto Geisel (1974-1979). “Na reunião (de 22 de abril), eles ficaram o tempo todo tomando cafezinho, de boca calada. Eles engoliram tudo o que Guedes disse. Ouviram ‘vou armar a população’ (de Bolsonaro) e não falaram nada. Uma vergonha total”, segundo ele.

Para Paulo Teixeira, se o país continuar “no caminho do Guedes, muitas pessoas e empresas vão morrer”. O petista acredita que o projeto do governo e do ministro da Economia é “endividar o Estado e depois vender tudo”.

Na reunião, divulgada na sexta (22) após liberação do STF, Guedes revelou seu pensamento sobre os bancos públicos. “O BNDES e a Caixa, que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada, e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra”, disse o ministro. Na opinião de Teixeira, os Estados Unidos e a Europa, “vão sair (da crise da pandemia) em recessão, mas aqui vamos sair em profunda depressão”.

A situação brasileira é muito difícil, acredita o ex-governador. Em sua opinião,  o coronavírus é acelerador do processo de crise. Ele defendeu que um projeto nacional para enfrentar os efeitos da pandemia precisaria se inspirar no New Deal, plano com que o então presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt criou para recuperar o país da “grande depressão” desencadeada a partir de 1929.

Grandes investimentos em obras públicas e infraestrutura, na indústria e na agricultura e diminuição da jornada de trabalho para incentivar a criação de empregos foram algumas das muitas medidas adotadas por Roosevelt.

“Temos que aprender com Estados Unidos, Alemanha, China e Rússia”, disse Requião. O Brasil, governado por um projeto neoliberal, faz o oposto do que a crise, agravada pela pandemia, requer, como a diminuição da carga horária e aumento do salário mínimo. “Mas Guedes é operador do capital financeiro”, acrescentou.