Fervura

‘O serviço de informação nosso é uma vergonha. (…) Vou interferir’, assume Bolsonaro

AGU divulga trechos da reunião ministerial de 22 de abril, com falas de Bolsonaro: “Eu não vou esperar f* minha família toda de sacanagem…”

Valter Campanato/Agência Brasil
Valter Campanato/Agência Brasil
Reunião de governo em que o então ministro da Justiça, Sergio Moro, disse ter recebido pressão para fazer mudanças na Polícia Federal

São Paulo – “E me desculpe o serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, disse Jair Bolsonaro na reunião ministerial de 22 de abril, em trecho liberado hoje (14) pela Advocacia-Geral da União, conforme informações divulgadas pela TV Globo. As transcrições foram entregues pela AGU ao Supremo Tribunal Federal (STF), como parte de investigação.

Foi nessa reunião que o então ministro da Justiça, Sergio Moro, disse ter recebido pressão para fazer mudanças na Polícia Federal. O episódio levou à demissão de Moro, dois dias depois. As denúncias de Moro são investigadas no STF, cujo decano, ministro Celso de Mello, deve ser manifestar sobre liberar, ou não, o conteúdo da reunião. A Advocacia-Geral é a favor da retirada do sigilo apenas dos trechos com intervenções de Bolsonaro.

Em outro trecho, Bolsonaro faz menção à família. Mas, segundo a AGU, tratava-se de comentário sobre uma notícia inverídica de que o irmão do presidente teria sido visto em um açougue em Registro (SP) sem máscara.

Interpretação

“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f* minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe. Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse o presidente.

A AGU diz ainda que não se pode afirmar que Bolsonaro teria admitido “no mesmo contexto sua insatisfação com a informação e no que ele denomina relatório de inteligência”. E acrescenta: “Se houve manifestação de alguma insatisfação, ocorreu ela muito antes, em contexto completamente diverso, de modo meramente exemplificativo, rigorosamente genérico, tanto que aquela outra fala, cinquenta minutos antes, em seu contexto próprio, é concluída do seguinte modo: serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha”.

Na manifestação ao Supremo, a AGU considera que seria “literal e objetivamente equivocado” concluir que, quando Bolsonaro mostra insatisfação com a falta de informações, isso pode ser interpretado como tentativa de obter informações sigilosas da PF.

Durante o dia, veículos de informação divulgaram trechos da reunião obtidos com fontes. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, Bolsonaro teria pedido empenho de todos os ministros para “salvar” o governo.

A defesa de Moro protestou contra a transcrição parcial do vídeo da reunião, informou o portal G1. Segundo ela, isso mostra “disparidade de armas”, porque apenas a AGU tem acesso ao conteúdo. “A transcrição parcial que busca apenas reforçar a tese da defesa do Presidente reforça a necessidade urgente de liberação da integralidade do vídeo”, diz, em nota, um dos advogados do ex-ministro, Rodrigo Rios.

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