Saúde de fardas

No meio da pandemia, ministro da Saúde demite técnicos e substitui por militares

Governo amplia para sete o número de postos estratégicos ocupados por militares. Há ainda outros cargos em aberto após dispensa de servidores de carreira da pasta

Marcello Casal Jr./EBC
Marcello Casal Jr./EBC
Na Rádio Brasil Atual, pesquisadora da Fiocruz critica substituições em meio a maior crise sanitária dos últimos 102 anos. Servidores também se queixam que processos em curso ficaram ainda demorados

São Paulo – Após a nomeação do general Eduardo Pazuello para secretário-executivo do Ministério da Saúde – o segundo cargo mais importante da pasta –, o governo Bolsonaro vem ampliando a participação de militares na administração da pasta, em detrimento dos servidores de carreira. As informações são do jornal O Globo

Até quarta-feira (6), de acordo com o Diário Oficial da União, o ministro da Saúde, Nelson Teich, já havia nomeado cinco militares para cargos de coordenação e direção. Mas, levantamento de O Globo, divulgado nesta segunda-feira (11), aponta, ao todo, para pelo menos sete indicações com origem militar, além de exonerações de técnicos do órgão e uma série de cargos ainda sem substitutos nomeados.

Teich assumiu o ministério em 17 de abril, após a demissão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Logo depois da escolha de Pazuello, o ministro indicou para chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Maranhão, o tenente-coronel Alberto José Braga Goulart. Na primeira semana deste mês – entre a nova leva de cinco militares que assumiram cargos –, está o tenente coronel Marcelo Blanco Duarte, nomeado assessor no Departamento de Logística. O tenente substitui Adriana Maria Pinhate, servidora efetiva desde 2012, segundo a reportagem. 

Atrasando os processos

Na edição do Jornal Brasil Atual desta segunda, a presidenta do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), Lucia Souto, médica sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), criticou as mudanças em meio a pandemia do novo coronavírus, que já matou mais 11 mil pessoas no país

“Não é porque são militares. É que são pessoas que nunca tiveram um contato com a saúde pública, que não têm a menor ideia do que se trata. E, nesse momento, a liderança do Ministério da Saúde é indispensável”, destacou à Rádio Brasil Atual.

De acordo com O Globo, a militarização do órgão também vem provocando conflitos internamente. Servidores se queixam que a chegada dos militares tem causado demora na resolução de processos que estavam em andamento. Além disso, cargos como a Assessoria de Assuntos Internacionais do ministério ainda estão vagos em meio a maior crise sanitária dos últimos 102 anos. 

O ministro, contudo, vem afirmando que as indicações não são definitivas. E que os servidores de carreira voltarão para os seus cargos quando a situação voltar à normalidade.


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