Golpe contra o Brasil

Dilma avisou: ‘O que está em jogo é o futuro do país, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais’

O discurso premonitório da então presidenta, no dia do seu afastamento, há exatos quatro anos, anunciava o Brasil que viria depois do golpe

Roberto Stuckert Filho
Roberto Stuckert Filho
Há quatro anos, ao deixar o Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff previu o efeito destruidor do golpe

São Paulo – Em 12 de maio de 2016, o Brasil e o mundo assistiam, estarrecidos, ao afastamento da presidenta da República, Dilma Rousseff, reeleita em 2014 com 54,5 milhões de votos. Sem ter cometido crime de responsabilidade, em um processo cheio de irregularidades, o Senado aprovou, por 55 votos contra 22, a abertura do processo de impeachment contra Dilma e seu afastamento imediato do cargo.

Em seu pronunciamento à nação, a primeira mulher presidenta da República no Brasil foi premonitória sobre tudo que viria após o golpe de 2016. “O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição. O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, os jovens chegando às universidades e às escolas técnicas, a valorização do salário mínimo, os médicos atendendo a população, a realização do sonho da casa própria. O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é o futuro do país, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais.”

Ela estava certa

O tempo mostrou que Dilma estava certa. Quatro anos depois, todos essas conquistas da cidadania dos brasileiros foram anuladas ou estão em risco. Em meio à pandemia do novo coronavírus, a ausência de tudo que foi perdido torna-se ainda mais trágica.

As universidades padecem de falta de recursos e perseguição diante de um governo que repudia a ciência, a educação, o conhecimento. Programas sociais de reconhecimento internacional, como o “Minha Casa, Minha Vida”, o “Bolsa Família”, o “Mais Médicos” correm risco de extinção. Os pobres voltaram à miséria à qual estiveram relegados por décadas. O Brasil voltou ao vergonhoso Mapa da Fome.  

Do golpe ao caos

Sem crime

Naquele discurso de pouco mais de 14 minutos, a presidenta lembrou a perseguição que vivia desde sua reeleição. “Não cometi crime de responsabilidade, não há razão para um processo de impeachment”, reiterou. “Não tenho contas no exterior, nunca recebi propinas, jamais compactuei com a corrupção. Esse processo é um processo frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. É a maior das brutalidades que pode ser cometida contra qualquer ser humano: puni-lo por um crime que não cometeu.”

E avisou: “Queria me dirigir a toda a população do meu país dizendo que o golpe não visa apenas me destituir, destituir uma presidenta eleita pelo voto de milhões de brasileiros, voto direto em uma eleição justa. Ao destituir o meu governo querem, na verdade, impedir a execução do programa que foi escolhido pelos votos majoritários dos 54 milhões de brasileiros e brasileiras. O golpe ameaça levar de roldão não só a democracia, mas também as conquistas que a população alcançou nas últimas décadas.”

A primeira

Emocionada, Dilma falou do orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil e das ameaças à democracia. “Nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que recebi”, disse.

“Lutei a minha vida inteira pela democracia, aprendi a confiar na capacidade de luta do nosso povo. Já vivi muitas derrotas e vivi grandes vitórias, confesso que nunca imaginei que seria necessário lutar, de novo, contra um novo golpe no meu país. Nossa democracia jovem, feita de lutas, feita de sacrifícios, feita de mortes não merece isso. A luta contra o golpe é longa. É uma luta que pode ser vencida e nós vamos vencer. Esta vitória, esta vitória depende de todos nós. Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia em nosso país.” Essa luta continua.

Nas telas

Hoje (12), às 20h30, a página do Comitê Volta Dilma no Facebook exibirá o filme O Processo. O documentário da cineasta Maria Augusta Ramos é um olhar pelos bastidores do julgamento de impeachment que retirou Dilma Rousseff da Presidência da República e mergulhou o Brasil no caos.


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