Repercussão

Deputados e senadores sobre saída de Teich: Bolsonaro ‘genocida’ e ‘psicótico’

“Não adianta trocar de ministro se não trocar de presidente”, diz Gleisi.
“Brasileiros na fila por UTI”, afirma Paulinho. “Projeto genocida”, acusa Padilha

Agência Câmara
Agência Câmara
Gestão do Ministério da Saúde, com dois ministros demitidos em um mês, provoca críticas e indignação no Congresso

São Paulo – As repercussões da queda do segundo ministro da Saúde em menos de um mês continuam. Em pleno crescimento exponencial da pandemia da covid-19 (doença causada pelo coronavírus), Nelson Teich pediu demissão após 28 dias à frente da pasta. Ainda que cautelosas, ele adotou posições contrárias às determinações do chefe, o presidente Jair Bolsonaro.

“Mal aterrissou de paraquedas na Saúde, já foi apeado, porque poderia ser um obstáculo ao projeto genocida de Bolsonaro”, diz o ex-ministro da Saúde, médico e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que lançou o programa Mais Médicos em julho de 2013, no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Segundo Padilha, Bolsonaro “quer no Ministério da Saúde alguém que não seja uma voz dissonante ao seu projeto genocida, alguém que não realize nenhuma ação”. Nos últimos 30 dias, de acordo com o petista, não chegou no país mais nenhum respirador mecânico, nem testes, médicos ou proteções aos trabalhadores da saúde.  

Em posts nas redes sociais, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) escreveu que “Bolsonaro não quer um técnico no Ministério da Saúde, quer um capacho para chamar de seu”.

Mais do que isso, para ela, o presidente quer no ministério alguém que “acabe com a quarentena em nome da Economia”. A parlamentar acrescentou: “Não adianta trocar de ministro se não trocar de presidente. Bolsonaro é o maior responsável pela crise e está se lixando para a saúde do povo”.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que também é médica, disse que o país está “sem ministro da Saúde, sem testes, sem vacinas, sem plano logístico, sem perspectiva de diminuir a curva de contágio e sem presidente”.

O jornal argentino Página12 ilustrou o trágico quadro brasileiro com precisa ironia: “O novo ministro da Saúde de Bolsonaro renuncia”. A publicação nota que “a primeira reação à notícia foi curiosamente de (Luiz Henrique) Mandetta”. De fato, o ministro que antecedeu Teich publicou no Twitter: “Ciência, paciência, fé. Fique em casa”.

“Psicótico”

A saída de Teich não provocou reações apenas na oposição, mas também de setores conservadores no Congresso. O líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), chamou Bolsonaro de “psicótico”, segundo a Agência Senado. “Precisamos urgentemente de um bom psiquiatra para equilibrar o Bolsonaro”, disse o senador baiano.

“Ele não vai mudar, quer enquadrar os protocolos da saúde à caserna, a saúde vai ter que ser enquadrada ao quartel”, acrescentou Alencar. A reportagem da agência diz que “os parlamentares que se manifestaram foram unânimes em afirmar que o fato (demissão de Teich) aponta despreparo e irresponsabilidade”.

Considerado um dos líderes do poderoso Centrão na Câmara, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) disse duvidar de que “alguém consiga fazer o presidente aprender com a ciência e perceber que reduzir o isolamento social é colocar mais brasileiros na fila de espera por uma vaga na UTI”, de acordo com matéria do jornal O Estado de S. Paulo.

Outro integrante do Centrão, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), ironizou: “Diante das imposições do presidente, só topará ser ministro da Saúde quem não tiver compromisso com a ciência e nem com a medicina”.

Um dos motivos da demissão de Teich foi a insistência de Bolsonaro de impor a cloroquina – usada contra a malária – no tratamento da covid-19. Apesar de não haver estudos conclusivos sobre a eficiência da droga, e também de seus efeitos colaterais como arritmia cardíaca, Bolsonaro segue o norte-americano Donald Trump, que defende o uso do medicamento.

No início de abril, o jornal The New York Times divulgou a informação de que Trump tem participação financeira na Sanofi, maior fabricante mundial da cloroquina.

Para Padilha, a droga é uma “peça de marketing” do presidente brasileiro. “Nenhum estudo mostra sua eficácia, pelo contrário, os estudos mostram reações adversas. Mas Bolsonaro sabe que seu projeto genocida de colocar os trabalhadores sob risco de vida precisa ter a promessa de um medicamento no qual se apegar”, diz o ex-ministro.

Não foi apenas a cloroquina que “derrubou” Nelson Teich. Bolsonaro já havia ficado furioso com o então ministro em 30 de abril. Na ocasião, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, sua curta passagem pelo Ministério da Saúde começou a chegar ao fim, quando ele defendeu o isolamento em São Paulo e disse: “Há coisas que são básicas. Não tem como ter liberação de isolamento quando há uma curva em franca ascendência”.


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