Confronto

Bolsonaro volta a atacar e fala em ‘guerra’. Governadores reagem

Em videoconferência com empresários, da qual participou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, presidente exortou os donos do capital a “jogar pesado” contra os governadores

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Ao lado de Paulo Guedes, Bolsonaro participou de videoconferência com empresários e voltou a desafiar bom senso

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro demonstrou nesta quinta-feira (14), mais uma vez, que definiu o confronto político como “estratégia” no enfrentamento da pandemia de coronavírus, que cresce exponencialmente no país. Contrariando diretrizes científicas, o chefe de governo usou hoje a palavra “guerra” para definir sua oposição à política de governadores contra a covid-19 e defender a reabertura de atividades comerciais.

Em videoconferência com empresários, da qual participou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, Bolsonaro exortou os donos do capital a “jogar pesado” contra os governadores e usou a palavra “guerra”. “Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado. Jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra”, disse, em referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). “Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, decidindo o futuro da economia do Brasil”, afirmou ainda.

Governadores de diferentes tendências têm reagido às provocações do chefe do clã Bolsonaro. O próprio governador paulista afirmou que mais uma vez o chefe de governo “deixa de defender a saúde dos brasileiros para atacar quem está trabalhando para proteger vidas”. O tucano acrescentou: “Prefere comícios, andar de jet ski, treinar tiros e fazer churrasco. Enquanto milhares de brasileiros morrem por coronavírus”.

Ideologicamente no lado oposto a Doria, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), escreveu no Twitter: “Se a crise econômica fosse causada pelos governadores, por que ela existe em outros países?”, questionou. “Quem está causando a grave crise econômica é o coronavírus. E a responsabilidade da gestão econômica é dele. Se não sabe o que fazer, renuncie”.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), se posicionou em tom mais polido. “Tem uma parcela da população que discorda do isolamento e me ataca pelas medidas. Gostaria de poder dizer às pessoas para voltar ao trabalho, mas devo cumprir meu dever e proteger vidas. Evitar o colapso da saúde”, escreveu.

Aliado de Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), escreveu: “Não vou aceitar a tese de Pôncio Pilatos. As responsabilidades pelas consequências terão que ser assumidas por todos”.

Fritura de Teich

No interior do governo federal, menos de um mês depois da demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, os comentários nos corredores de Brasília dão conta de que o substituto, Nelson Teich, já começa a ser “fritado”.

Na segunda-feira (14),  Teich escreveu no Twitter avisando que faria um “alerta importante” sobre a cloroquina, defendida por Bolsonaro como panaceia para a covid-19. Segundo Teich, trata-se de “um medicamento com efeitos colaterais”, e por isso “qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica”.

O atual ministro acrescentou que qualquer paciente “deve entender os riscos” e assinar um “termo de consentimento” antes de usar a droga. A partir de então, passou a sofrer ataques de bolsonaristas nas redes sociais.

No final da tarde desta quinta-feira (14), Bolsonaro chamou o ministro para uma reunião fora da agenda no Palácio do Planalto, segundo o portal UOL. Na segunda-feira, o presidente assinou decreto contrário a qualquer orientação científica e médica, incluindo salões de beleza, barbearias e academias de esportes na lista de “serviços essenciais”.

Os governadores se rebelaram e, para perplexidade generalizada, Bolsonaro respondeu que “afrontar o estado democrático de direito é o pior caminho, aflora o indesejável autoritarismo no Brasil”.