Chantagem institucional

Bolsonaro e Guedes vão ao STF de surpresa e acuam Toffoli contra quarentena

Ao lado de empresários, presidente prometeu vetar texto do Congresso e congelar salário de servidores. Toffoli pediu formação de gabinete de crise

Reprodução/Youtube
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Presidente do STF cercado por Braga Netto (esq.), Bolsonaro e Paulo Guedes

São Paulo – Em movimentação inesperada, que surpreendeu os meios institucionais, o presidente Jair Bolsonaro forçou uma reunião não agendada com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, no fim da manhã desta quinta-feira (7). Acompanhado dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Walter Braga Netto (Casa Civil) e empresários capitaneados pelo presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, a intenção de Bolsonaro foi defender que a economia deve “voltar a girar”, contra as medidas de isolamento no combate à pandemia de coronavírus.

“Há dois meses eu venho falando que a economia não pode parar porque a economia também é vida”, disse Bolsonaro. Outro objetivo do gesto, inédito, foi pressionar Toffoli contra a decisão do STF que determinou que estados e municípios têm autonomia para impor políticas locais de combate a pandemia, como a possível decretação de lockdown por entes federativos mais atingidos.

Guedes afirmou ainda que pediu a Bolsonaro o veto à autorização do Congresso de flexibilizar o congelamento de reajuste de salários do funcionalismo público autorizado pelo Congresso nesta quarta-feira (6) ao votar a ajuda a estados e municípios.

Visivelmente constrangido na reunião, Toffoli ouviu mais do que falou. Cauteloso, pediu um “planejamento organizado na retomada da economia” e defendeu a formação do até hoje não concretizado gabinete de crise e organização e coordenação no processo. “Essa coordenação, presidente, que o Poder Executivo, o presidente da República, junto com seus ministros, chamando os outros poderes, chamando os estados, os representantes dos municípios, eu penso que é fundamental isso, talvez um comitê de crise”, disse o ministro.

Em entrevista na saída do STF, ao lado de Bolsonaro, Guedes pediu a “contribuição” do funcionalismo público. “Com dois anos sem aumento, estamos falando de 130 bilhões de reais, que poderiam ser usados em outras atividades.” Segundo o ministro, os recursos poderiam ser destinados a “salvar vidas, para estender um programa social qualquer”. Ele acrescentou: “Estou sugerindo ao presidente que vete”.

Bolsonaro emendou: “O parlamento entendeu que certas categorias poderiam ter reajuste. Que que (sic) nós decidimos? Eu sigo a cartilha de Paulo Guedes na economia”.  Segundo ele, “não de maneira cega, mas racional”. “Se ele acha que deve ser vetado esse dispositivo, assim será feito”, prometeu o chefe do Executivo.


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