Prazo de validade

Bolsonaro força polêmicas para encobrir governo em ‘coma’, diz professor

Para cientista político Paulo Nicoli Ramirez, presidente caminha para o impeachment. “Há perspectivas de permanência no poder de um presidente patético?”

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Bolsonaro move sentimentos negativos da população, como "nunca antes na história desse país"

São Paulo – Os ataques quase diários do presidente Jair Bolsonaro à imprensa servem apenas para desviar a atenção da sociedade do fracasso do governo. A avaliação é do cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Para Ramirez, o governo falha no combate à pandemia de coronavírus, não vai bem na gestão da crise e se aproxima da “velha política” com a aproximação fisiológica do chamado “centrão”, em busca de sobrevivência. “O governo Bolsonaro está em coma”, define o professor.

Ao negociar cargos e verbas com partidos como o PTB de Roberto Jefferson, um dos expoentes da chamada “velha política“, Bolsonaro “abriu as portas do inferno”, segundo Ramirez. Em função dessa e de outras contradições, seu apoio popular fica cada vez mais restrito a um pequeno grupo de radicais, compostos por “pessoas muito mal-informadas e de lunáticos”.

Nesta terça-feira (5), o presidente chamou de “patifaria” a reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre a ingerência política no comando da Polícia Federal. Questionado, mandou uma jornalista “calar a boca”.

“É impressionante como Bolsonaro não consegue ficar um dia, sequer, sem produzir uma confusão. Nunca antes na história desse país houve um presidente que conseguiu mover tamanhos sentimentos da população brasileira. E não são sentimentos positivos, evidentemente”, disse o cientista político à Rádio Brasil Atual, nesta quarta-feira (6).

Racha

Outro indício de enfraquecimento de Bolsonaro é a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, um dos “pilares” de sustentação do governo. Apoiadores do ex-juiz e do presidente chegaram a entrar em confronto, durante o depoimento de Moro, em inquérito que investiga a tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

“Você tem 27 superintendências. Eu quero apenas a do Rio de Janeiro”, teria dito o presidente, segundo o ex-ministro.

“O que ele queria é uma blindagem em relação a possibilidade de investigações contra a sua família. Por outro lado, as conversas revelam que houve interferência. É inegável”, comentou o cientista político.

Ruindo

Mais um indicativo da incapacidade política de Bolsonaro, os militares e o ministro da Economia, Paulo Guedes, os outros “pilares” de sustentação do governo, também entraram em rota de colisão. Os primeiros defendem atuação mais incisiva do Estado para mitigar os efeitos econômicos da pandemia. Enquanto Guedes, com uma “visão de mundo mais egoísta”, defende o protagonismo do mercado.

A paulatina perda de força que caracteriza esse estado de coma político de Bolsonaro deve fazê-lo aproximar-se cada vez mais de um processo de impeachment, segundo o analista.

“A questão é saber qual é o prazo de validade de Bolsonaro”, disse Ramirez. “Há perspectivas de permanência no poder de um presidente patético? A imprensa internacional não consegue entender como um presidente pode agir contra a população e atacar a imprensa. E quais são os motivos de fazer isso durante uma epidemia, quando a população precisa de uma voz amiga.”


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