Desafiante

Bolsonaro amplia ameaças e participa, sem máscara, de novo ato contra a democracia

Presidente usa redes sociais para mandar “recado” a Celso de Mello, do STF, por ter permitido divulgação de vídeo de reunião ministerial e junta-se a manifestantes fascistas em Brasília

Arquivo pessoal/Twitter
Arquivo pessoal/Twitter
Perigo à solta. Além de provocar ministro do STF e provocar novas aglomerações, Bolsonaro, sem máscara, voltou a ter contato físico com populares, pegando até mesmo uma criança no colo

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro voltou hoje (24) a contrariar recomendações da OMS e regras do governo do Distrito Federal e, sem máscara, participou de nova manifestação fascista promovida por apoiadores pedindo intervenção militar e pelo fechamento do Congresso e do STF. Como em todas as vezes anteriores, sua presença provocou aglomeração de pessoas e pode ter contribuído para ampliar a pandemia da covid-19 – que até a tarde de ontem já tinha provocado cerca de 23 mil mortes no Brasil.

Além disso, Bolsonaro também usou as redes sociais para enviar um recado ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente reproduziu trecho da lei 13.869 de 2019, tanto no Facebook como no Twitter, insinuando que o decano do Supremo teria praticado abuso de autoridade.

“Art. 28 Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena – detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos”, mostrava a imagem postada pelo presidente.

Celso de Mello é o ministro que autorizou a divulgação de vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que Bolsonaro aparece, junto a outros ministros do governo, atacando as instituições e pedindo mudanças na “segurança” do Rio de Janeiro para não “foder” a sua família.

Logo após a postagem, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada de helicóptero e foi à Praça dos Três Poderes, onde ocorreu mais uma manifestação de extrema-direita em defesa do seu governo, contra o Legislativo e o Judiciário e a favor do fim das medidas de restrição de circulação de pessoas como forma de conter a pandemia. Pelas regras baixadas pelo Distrito Federal, o presidente pode ser multado em até R$ 2.000.

No ato fascista em apoio a Bolsonaro, foram vistos cartazes contra o Congresso, o STF (mencionando uma “ditadura do Supremo”) e a imprensa. Em manifestações com a presença de Bolsonaro, o próprio Planalto têm solicitado evitar materiais que peçam golpe contra as instituições democráticas.

Cercado de seguranças, o presidente estava acompanhado dos ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e os deputados federais Hélio Lopes (PSL-RJ), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF), entre outros.

Ignorâncias

Após o ato deste domingo, Onyx afirmou que o vídeo da reunião ministerial é de um encontro fechado e não deveria ter sido divulgado. “A gente não tem medo da verdade, a gente carrega a verdade com a gente e o tempo vai mostrando que o presidente é absolutamente coerente com tudo aquilo que ele faz e acredita”, disse o aliado de Bolsonaro.

O ministro não considera, porém, que reunião ministerial não é evento “fechado”. Ao contrário, trata-se de absoluto interesse público – especialmente em momentos como a atual crise sanitária, que em momento algum foi tratada com a seriedade que se esperaria da cúpula do Executivo. Segundo observadores, ao publicar trecho da chamada Lei de Abuso de Autoridade nas redes sociais, Bolsonaro pode ter demonstrado dificuldade em interpretar a lei ou manobra intencionalmente o mal entendido para mobilizar seus apoiadores.

Sobre mensagens do presidente que mostrariam que ele tentou interferir na Polícia Federal, Onyx nada explicou, limitando-se a dizer que “isso é caso superado”. Questionado por jornalistas sobre a aglomeração de pessoas na manifestação, o ministro respondeu de forma ríspida que o ato é espontâneo e que “o PT pagava para trazer manifestantes até o local”.

Em breve declaração durante o ato, o general Augusto Heleno falou, em relação à covid-19, que “nós vamos ganhar essa guerra”.


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