novo cenário

Maia precisa de Bolsonaro para ser o ‘líder sensato’ na crise, diz cientista política

“Eles são faces da mesma moeda. Ambos estão lá para defender os interesses liberais da economia do Brasil”, destaca Rosemary Segurado, da PUC-SP

Valter Campanato / Agência Brasil
Valter Campanato / Agência Brasil
Rodrigo Maia precisa de Bolsonaro como antagonista, por isso o impeachment não lhe interessa, diz cientista política

São Paulo – A Câmara dos Deputados já recebeu 24 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro, protocolados por juristas, partidos políticos e mesmo ex-aliados do presidente. Mas o apoio a um eventual impedimento ganhou mais força após o último domingo (19), quando o presidente da República participou de uma manifestação que defendia, entre outros pontos, a intervenção militar.

A cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemary Segurado acredita que o cenário mudou de uma semana para cá e a possibilidade de afastamento de Bolsonaro hoje é mais concreta. “O presidente endossou uma manifestação contra os pilares da democracia. Essa ação ultrapassa o limite e o pedido de impeachment é acertado. Há inúmeros crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro, então há uma base para o processo”, defendeu Rosemary, em entrevista a Marilu Cabañas e Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quinta-feira (23).

Protocolado ontem pelo ex-candidato presidencial Ciro Gomes e pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o novo pedido de impeachment acusa Bolsonaro de cometer crime de responsabilidade por ter incentivado atos contra o Legislativo e o Judiciário. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsável por analisar os processos, ainda não decidiu se dará ou não sequência à análise dos pedidos de impeachment.

A cientista política acredita que a posição de Maia é cômoda, já que ele precisa da figura do presidente para se colocar como uma espécie de antagonista. “Maia precisa de Bolsonaro para se notabilizar como um líder sensato na crise. Por outro lado, circula nas redes bolsonaristas o pedido pelo impeachment de Maia. Eles são faces da mesma moeda. Ambos estão lá para defender os interesses liberais da economia do Brasil”, ressalta.

Militares

Após as manifestações de domingo, os militares ganharam força no governo. O ministro da Saúde, Nelson Teich, anunciou a escolha de um militar especializado em logística para ocupar o cargo de secretário-executivo, o segundo mais importante da pasta. O general Eduardo Pazuello assume o posto imediatamente. Já na área econômica, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, ganhou força nesta semana e surgiu como o principal articulador político do governo. Ele anunciou ontem um plano de retomada da economia, chamado de Pró-Brasil, um esboço ainda não detalhado.

Para Rosemary, as Forças Armadas não se manifestam de maneira contundente contra os discursos antidemocráticos de Bolsonaro e seus apoiadores. Na última segunda-feira, por exemplo, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva​, disse que os militares trabalham com o propósito de “manter a paz e a estabilidade do país”, obedecendo à “Constituição Federal”.

“As Forças Armadas não demonstraram de forma clara um posicionamento contra essas manifestações (antidemocráticas). O suposto recuo do Bolsonaro é um jogo que ele faz desde sua eleição, em que avança o sinal e depois dá um passo para trás. Ele intensifica sua medida golpista, precisando manter seus apoiadores mobilizados”, critica.

“É preciso uma posição mais enérgica das Forças Armadas, que tem uma participação grande no governo. Não fica claro se concordam ou discordam do Bolsonaro, mas vão mantendo a sociedade em banho maria, enquanto o presidente intensifica suas estratégias antidemocráticas”, acrescentou.

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