Teto de vidro

Mudança de Bolsonaro na Polícia Federal é remoção de ‘pedra no sapato’, diz advogado

Na avaliação do criminalista José Carlos Portella Junior, presidente da República quer alinhar ainda mais a PF a seus interesses

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Advogado diz que Moro não pode ser visto como um 'defensor da autonomia da Polícia Federal', já que a PF já poderia ter investigado os esquemas da família Bolsonaro

São Paulo – Com “teto de vidro”, o presidente Jair Bolsonaro avança suas peças contra o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e busca trazer a Polícia Federal para o seu lado. A avaliação é do criminalista José Carlos Portella Junior, do coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia.

“Bolsonaro mexe na Polícia Federal, um órgão estratégico para quem tem telhado de vidro, como tem a família do presidente, que viu o caso da ‘rachadinhas’ e da rede de fake news. É uma pedra no sapato do Bolsonaro e ele precisa jogar a PF para o seu lado”, explicou Portella, em entrevista Marilu Cabañas e Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, ao analisar a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo, nesta sexta-feira (24).

Bolsonaro tem nas costas processo de investigação relacionado à fraude eleitoral pelo uso indevido de dinheiro empresarial e do disparo ilegal em massa de fake news em redes. Já um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é alvo de investigações sobre um esquema de ‘rachadinha’ em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, na época em que ele era deputado estadual.

Queda de braço entre Bolsonaro e Moro

O advogado afirma que o presidente Bolsonaro avançou uma peça no tabuleiro para ver sua força no governo e testar a lealdade de seus aliados. Para Portella, a meta do presidente é desgastar a imagem de Sergio Moro com a base bolsonarista, já que o ex-juiz pode ser candidato à presidência da República em 2022.

O especialista afirma ainda que a motivação do atrito entre Bolsonaro e Moro é a mesma que teria originado a demissão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta: alimentar o ego do presidente.

“Acredito que por trás disso tudo há uma queda de braço entre os dois. Moro precisa ser silenciado por Bolsonaro, que sabe da força do ministro na direita, então essa briga serve para expor Moro. Ao atacar o Valeixo, ele ataca Sergio Moro e reforça a imagem que quer tanto impor, de autoridade máxima”, disse.

Portella acrescenta que Moro não pode ser visto como um defensor da autonomia da Polícia Federal e a da moralidade, pois a PF já poderia ter investigado esquemas da família do presidente. “O noticiário dizia que Bolsonaro queria cortar o orçamento da PF e Moro foi contra, então ainda há orçamento para seguir as investigações e revelar as ligações da família Bolsonaro. Porém, ela não vai fazer isso, porque está submetida a Moro”, afirma, ao lembrar dos discursos do ministro da Justiça em defesa da família Bolsonaro, no caso das ‘rachadinhas’.

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