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Impeachment de Bolsonaro tem que vir da sociedade civil, diz Lula

Para o ex-presidente, Bolsonaro “só gosta de fazer as coisas erradas”. “Ele não cuida da pandemia, não cuida da economia, não cuida dos empregos”, afirmou

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Soberania: Brasil não pode ser "lambe-botas" dos Estados Unidos, disse Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a saída de Jair Bolsonaro, que “não tem condições de governar o Brasil”. Mas, segundo ele, o pedido de impeachment do atual presidente deve partir de entidades da sociedade civil, para evitar a partidarização do processo.

“Queremos muito discutir o impeachment, mas achamos que deve vir da sociedade civil, e não de um partido político. Se o PT apresentar, vai partidarizar o pedido. Preferia que fosse feito por instituições, tipo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) ou a CUT (Central Única dos Trabalhadores)”, disse Lula, em entrevista ao colunista do portal UOL Leonardo Sakamoto.

A ideia seria reproduzir o modelo adotado no afastamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello, quando o pedido foi apresentado pelo estão presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcello Lavenère. Ele disse ainda que é preciso um julgamento justo, pelo Congresso Nacional, “e não uma mentira safada como a que fizeram contra Dilma”.

Para Lula, em vez de buscar o diálogo, Bolsonaro é do tipo que gosta apenas de atacar. “Ele só gosta de fazer as coisas erradas. Ele não gosta de gostar. Ele gosta é de arrumar inimigo, de provocar”, criticou.

Pandemia

Para o ex-presidente, o principal problema com Bolsonaro é a sua inação no enfrentamento à pandemia de coronavírus no Brasil. “O governo federal não pode ficar brigando com governadores e prefeitos. Ele não cuida da pandemia, não cuida da economia, não cuida dos empregos. Que governo é esse?”, questionou Lula.

Ele citou a Argentina como exemplo bem-sucedido. “Ninguém está pedindo para ele salvar. O que a gente está pedindo é para agir como presidente, e fazer o que tem que ser feito. Ninguém está dizendo que ele vai evitar. Mas ele pode fazer como tem feito o Alberto Fernández, na Argentina, para evitar que a doença evolua na rapidez que está evoluindo. Porque, assim, vai estourar a capacidade hospitalar do país”, alertou.

Economia

Lula defendeu a impressão de “dinheiro novo” para ser investido em pesquisa contra a covid-19 e para socorrer a população em relação aos efeitos econômicos da pandemia. Segundo ele, não há risco de retorno da inflação, porque a demanda por produtos e serviços está “quase zero”, em função da crise. “Primeiro tem que vencer a guerra, derrotar o coronavírus. Depois vamos discutir como retomar o crescimento do país.”

Ele afirmou que é preferível “aumentar a base monetária” do país, do que “queimar” as reservar internacionais do país, como vem fazendo a equipe do ministro Paulo Guedes, com sucessivos leilões de bilhões de dólares para tentar conter a apreciação da moeda americana.

“As reservas são a única garantia para esse país continuar funcionando. O governo não tem nenhuma credibilidade, o Ministério das Relações Exteriores não tem, e o Guedes também não. Essa gente tem que saber que, se acabarmos com as nossas reservas, esse país vai verdadeiramente quebrar.”

Lula também lembrou que, se dependesse de Bolsonaro e Guedes, o auxílio emergencial para as famílias afetadas pela crise do coronavírus seria apenas de R$ 200. Foi devido à pressão do PT e dos demais partidos da oposição, que propunham valor equivalente a um salário mínimo, que o Congresso Nacional acabou aprovando os R$ 600.

Moro e Eleições 2022

O ex-presidente também afirmou que gostaria de enfrentar o ex-ministro da Justiça Sergio Moro nas eleições presidenciais de 2022. Segundo Lula, o ex-juiz da Operação Lava Jato “sem a toga não é ninguém”. “Gostaria de enfrentar ele no primeiro turno, porque acho que ele não irá para o segundo turno em qualquer eleição que tenha debate”. Ele disse que, mesmo como juiz, Moro é “medíocre”, mentiu nos processos contra ele, e não tinha estatura política para ocupar o ministério.

Apesar da vontade, Lula disse esperar que o PT e o Brasil não precisem dele nas próximas eleições. “Tenho que ajudar que o PT tenha um bom candidato e que eu seja um bom cabo eleitoral. É para isso que eu trabalho. Quero ajudar a eleger alguém que tenha compromisso com o povo trabalhador desse país.”

Lula afirmou que Moro e Bolsonaro são produtos criados pela Rede Globo, que comanda uma campanha pela negação da política no Brasil. Segundo ele, “não tem solução fora da política”, pois, “o que surge depois da política é bem pior”. Ele citou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como outro representante da antipolítica, assim como ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.