Há quatro anos

Dilma previu que impeachment traria ‘intolerância, ódio e violência entre nós’

“O que está em jogo na votação do impeachment são as conquistas sociais e os direitos dos brasileiros”, afirmou a então presidenta em 15 de abril de 2016

Reprodução
Reprodução
Aventura golpista levaria o Brasil a "doloroso processo de instabilidade e insegurança”, previu Dilma

São Paulo – Nesta sexta-feira (17) completam-se quatro anos da aprovação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. A decisão se deu por 367 votos favoráveis e 137 contrários. Para ser aprovado, o impedimento da petista precisaria receber 342 votos, ou dois terços dos 513 deputados. Ironicamente, o 342° voto foi de Bruno Araújo (PSDB-PE), cujo partido liderou as várias tentativas de “melar” as eleições de 2014, a partir da liderança do então senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado por Dilma no segundo turno.

Como observou a presidenta, então recém eleita, parte da oposição pediu a recontagem dos votos, tentou anular as eleições e depois passou a trabalhar exclusivamente pelo impeachment, colocando o país “num estado permanente de instabilidade política”, conforme declarou, em pronunciamento levado ao ar dois dias antes da votação na Câmara, em 15 de abril de 2016.

Dilma alertou: “O que está em jogo na votação do impeachment não é apenas a manutenção do meu mandato. O que está em jogo são as conquistas sociais e os direitos dos brasileiros”. Disse ainda que a “aventura golpista” poderia “mergulhar o Brasil num doloroso processo de instabilidade e insegurança”. A realidade brasileira de 2020, com o país sob a tutela de Jair Bolsonaro, parece materializar as previsões sombrias feitas no pronunciamento.

Já estava anunciado, pelos próprios defensores do impeachment, observou a então presidenta, que se conseguissem usurpar o poder, seria “necessário impor sacrifícios à população”. Revogar direitos e cortes de programas como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, e até mesmo ameaças à educação, estariam no horizonte, assim como “abrir mão da soberania e entregar o pré-sal às multinacionais”. A soberania, hoje, é seriamente ameaçada pela gestão do chanceler Ernesto Araújo à frente do Itamaraty.

Em 2016, Aécio Neves rebateu o discurso da então presidenta, afirmando que Dilma mentia. “Mente como mentiu na campanha eleitoral ao dizer que seus adversários vão acabar com os programas sociais do governo. Disse ela: eles vão acabar com o Minha Casa, Minha Vida, vão acabar com o Bolsa Família”, disse o senador tucano.

No pronunciamento, Dilma alertou também: “Eles estão dispostos a violentar a democracia e rasgar a Constituição, espalhando a intolerância, o ódio e a violência entre nós”. Ainda no processo eleitoral de 2018 o vaticínio parecia se confirmar, com cenas de agressão e violência por parte de bolsonaristas, incentivados pelo próprio chefe.

O governo de Michel Temer, que sucedeu Dilma, conseguiu aprovar a Emenda 95, que implementou o teto de gastos, e promoveu a “reforma” trabalhista.

No final de 2019, o ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro, Gustavo Canuto, anunciou que não haveria mais contratações para a faixa 1 (que beneficia  os mais carentes) do programa Minha Casa Minha Vida. 

Os ataques a direitos e ao sistema de educação no país, com cortes de bolsas de estudo de mestrado e doutorado, por parte do governo Bolsonaro e seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, assumiram proporções nunca antes vistas no país, e a violência passou a ser incentivada pelo próprio chefe do Executivo, o que ficou emblematizado por suas agressões às mulheres, como à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo.

Os cortes no Bolsa Família são uma realidade no Brasil de 2020. A ponto de, em decisão de março, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter determinado que o governo federal suspendesse os cortes no programa no Nordeste brasileiro.

Ainda em setembro de 2019, em entrevista à Folha, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) reconheceu ter havido “manipulação política do impeachment” de Dilma por parte da força-tarefa da operação Lava Jato e pelo ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça de Bolsonaro, que culminou com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril de 2019.

O tucano disse que a manipulação ficou provada após a divulgação de mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil, “operação” jornalística que ficou conhecida como Vaza Jato.