Obstáculos

Dilma: ‘Crise do coronavírus será superada se Estado romper com política neoliberal’

Ex-presidenta defende que governo emita dinheiro para financiar combate a Covid-19 e que planos Safra e de Aquisição de Alimentos sejam direcionados a assentamentos da agricultura familiar

MST/reprodução
MST/reprodução
Dilma classifica como "irresponsável" a falta de um plano mínimo para superar a crise. 'Não consideram a vida das pessoas mais importante que o lucro'

São Paulo – A crise sanitária e econômica provocada pelo novo coronavírus só será superada se o país se recusar a seguir as políticas do presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Na avaliação da ex-presidenta Dilma Rousseff, a ideia de aprofundar as reformas e o neoliberalismo colocará o país numa situação ainda pior.

Em entrevista à página do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a ex-presidenta lembra que as pessoas esperam que o governo, durante essas crises, contenha o choque e proteja a população. “Se vamos aplicar o isolamento social, precisamos de duas coisas: atuação do Estado e a cooperação internacional. O Estado precisa romper com os princípios do neoliberalismo, para que as pessoas não percam renda. A ideia ‘zumbi’ do Paulo Guedes, que achou que sairia dessa crise ampliando reformas, tem que ser enterrada para sairmos dessa crise.”

Dilma lembrou que o governo de Angela Merkel planeja suspender as restrições constitucionais ao endividamento da Alemanha para combater a crise do coronavírus. “O governo brasileiro deve emitir moeda, ele só se financiará se endividando. A base tributária está comprometida, não dá para arrecadar através dela, agora. Depois dessa crise, aí sim, temos que tributar patrimônio, herança, grandes fortunas e ganhos de capital.”

A falta de ações de Bolsonaro também foi criticada por Dilma, que classifica como “irresponsável” a falta de um plano mínimo para superar a crise. “Toda a loucura do Bolsonaro, do Trump e outros que querem evitar esse caminho de isolamento social, é porque não consideram a vida das pessoas mais importante que o lucro (das empresas)”, disse.

Produção na crise

A entrevista contou também com a participação do deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), com moderação do coordenador nacional do MST João Paulo Rodrigues. Um dos temas tratados foi o Plano Safra e a importância da agricultura familiar no enfrentamento da crise.

Com uma crescente falta de alimentos nas prateleiras dos mercados, o MST ressalta que o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), aprovado pelo Ministério da Agricultura, deve ser direcionado aos assentamentos.

“Foi aprovado um orçamento de R$ 500 milhões, mas não se fez nada para garantir que esses recursos cheguem aos assentamentos. Temos produtos parados que poderiam ser comercializados num preço barato e chegar para quem precisa. Temos mão de obra e terra, mas não temos o capital necessário para fazer o investimento”, relata João Paulo.

A ex-presidenta Dilma defende que seja aplicado um Plano Safra emergencial para garantir alimentos no segundo semestre deste ano. “É caso de segurança nacional. Tem de haver ajuda para o pequeno agricultor familiar, responsável por 70% dos alimentos produzidos no Brasil. Também tem que haver perdão da dívida para os trabalhadores rurais, pois se fossem as grandes empresas, já teriam perdoado”, acrescentou.

Na avaliação de Dilma, outra necessidade urgente do país é fazer reconversão industrial para frear a falta de insumos hospitalares e de higiene pessoal. “Um país que pode construir avião para o mundo também pode construir respiradores e produzir testes. O país que mais exporta etanol para o mundo também pode suprir a demanda de álcool gel. Se essa crise é de médio prazo, precisamos tomar essas providências para que a população não sofra”, defendeu.