Responsabilidade

Governadores do Nordeste reafirmam cuidados com a vida como prioridade

Responsáveis pelos nove estados da região consideram desastroso pronunciamento de Bolsonaro e gravíssimo cenário da pandemia de coronavírus no Brasil

Secom/Ceará
Secom/Ceará
Teleconferência firmou documento divulgado por governadores do Nordeste: frustração com o posicionamento agressivo da Presidência da República e necessidade urgente de coordenação e cooperação nacional para proteger empregos e a sobrevivência dos mais pobres

São Paulo – O Consórcio do Nordeste, que reúne os governos dos nove estados da região, avalia como “gravíssimo” o cenário de pandemia provocada pelo novo coronavírus no Brasil. Após reunião por videoconferência realizada nesta quarta-feira (25), uma carta assinada pelos governadores do Nordeste foi divulgada para marcar o posicionamento diante do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na noite de ontem, qualificado como “desastroso” pelos governadores.

Os gestores estaduais reafirmam como decisão prioritária “cuidar da vida das pessoas, não esquecendo da responsabilidade de administrar a economia dos estados”. E avisam: “vão continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência seguindo orientação de profissionais de saúde, capacitados para lidar com a realidade atual”.

O documento cobra do governo federal coordenação e cooperação nacional para proteger empregos e a sobrevivência dos mais pobres.

Críticas duras

Logo após o pronunciamento de Bolsonaro, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), afirmou que a declaração foi de uma perplexidade sem tamanho. “É inaceitável e lamentável”, disse.

Fátima confessou ter achado que após a iniciativa do presidente, de ter atendido os governadores, Bolsonaro mudasse sua postura. “E aí hoje ele vem com essa postura e com esse conteúdo, totalmente na contramão de todas as medidas que, com tanto esforço e responsabilidade, os governadores e prefeitos vêm enfrentando a pandemia?”

Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, disse que o presidente viu que perdeu a governabilidade. “Ele mesmo deflagrou o seu próprio processo de impeachment. Está completamente fora da realidade.”

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), relatou que, em seu estado, teve de tomar medidas duras, como suspender cirurgias marcadas, de casos importantes, seguindo orientação do ministro da Saúde do governo Bolsonaro, para garantir vagas para quem pudesse precisar, por conta do coronavírus.

“Não se faz isso por uma gripezinha”, comparou Dias. “Sei que as pessoas terão prejuízo, mas há algo em primeiro lugar agora, é a vida humana […] Vamos seguir com o isolamento social onde for necessário, com a ciência e com Deus.”

Do Pará, o governador Hélder Barbalho (MDB) falou sobre o trabalho para assegurar tratamento aos infectados. “Todo o nosso objetivo é aliviar o sistema de saúde para que as pessoas que eventualmente fiquem doentes possam ser tratadas. Por isso, suspendemos temporiariamente as aulas, festas, o comércio e os bares. Com menos gente circulando, o vírus circula menos e a gente não tem uma multidão batendo nas portas dos hospitais ao mesmo tempo.”

Camilo Santana (PT), governador do Ceará, informou por intermédio de suas redes sociais que todas as medidas tomadas no estado foram recomendadas por profissionais da saúde e têm sido a melhor forma de enfrentamento ao coronavírus. “Tenho apenas um comentário a fazer: vamos continuar trabalhando fortemente as ações que visam evitar o avanço do coronavírus em nosso estado, como temos feito até aqui.”


Íntegra da carta dos Governadores do Nordeste

25 de março de 2020
Em conferência realizada na tarde desta quarta-feira, 25 de março de 2020, nós governadores do Nordeste pactuamos:
1 – O momento vivido pelo Brasil é gravíssimo. O Coronavírus é um adversário a ser vencido com muito trabalho, bom senso e equilibro;
2 – Vamos continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência seguindo orientação de profissionais de saúde, capacitados para lidar com a realidade atual;
3 – Vamos manter as medidas preventivas gradualmente revistas de acordo com os registros informados pelos órgãos oficiais de saúde de cada região;
4 – É um momento de guerra contra uma doença altamente contagiosa e com milhares de vítimas fatais. A decisão prioritária e a de cuidar da vida das pessoas, não esquecendo da responsabilidade de administrar a economia dos estados. É um momento de união, de se esquecer diferenças políticas e partidárias. Acirramentos só farão prejudicar a gestão da crise;
5 – Entendemos que cabe ao Governo Federal ação urgente voltada aos trabalhadores informais e autônomos. Agressões e brigas não salvarão o País. O Brasil precisa de responsabilidade e serenidade para encontrar soluções equilibradas;
6 – Ao mesmo tempo, solicitamos a necessidade urgente de uma coordenação e cooperação nacional para proteger empregos e a sobrevivência dos mais pobres;
7 – Ficamos frustrados com o posicionamento agressivo da Presidência da República, que deveria exercer o seu papel de liderança e coalizão em nome do Brasil.
Rui Costa
Governador da Bahia
Renan Filho
Governador de Alagoas
Camilo Santana
Governador do Ceará
Flávio Dino
Governador do Maranhão
João Azevedo
Governador da Paraíba
Paulo Câmara
Governador de Pernambuco
Wellington Dias
Governador do Piauí
Fátima Bezerra
Governadora do Rio Grande do Norte
Belivaldo Chagas
Governador de Sergipe