Facebook comunista?

CPMI aponta ligação de Eduardo Bolsonaro com rede de fake news

Quebra de sigilo do Facebook revelou que uma das principais páginas utilizadas para disseminar ódio tem origem no gabinete do parlamentar

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
As informações do Facebook dão conta de que a página "Bolsofeios" tem origem no gabinete de Eduardo Bolsonaro

São Paulo – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, que investiga o disparo em massa de mentiras e ataques nas campanhas eleitorais em 2018, teve nova sessão hoje (4) e envolveu um dos filhos do atual presidente. Mais rápida do que em outros dias, a revelação ficou por conta de uma quebra de sigilo fornecida pelo Facebook sobre uma das páginas mais ativas neste contexto, chamada Bolsofeios. Por trás dela está o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A página é voltada a promover ataques contra qualquer adversário da ideologia liderada pelo presidente Jair Bolsonaro. As informações do Facebook dão conta de que a página Bolsofeios no Instagram foi registrada a partir de um telefone do secretário parlamentar de Eduardo, chamado Eduardo Guimarães.

O número de registro na rede, o endereço IP, do computador utilizado para criar a página foi localizado na Câmara dos Deputados. O e-mail de registro da conta é: “eduardo.gabinetesp@gmail.com”. O endereço eletrônico é registrado oficialmente pela assessoria do filho do presidente na Casa.

Milícias virtuais

Antigo apoiador de Bolsonaro, hoje desafeto e alvo de ataques, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) foi à ofensiva:”Quem está falando não é o Frota. Não é o Psol, o PT ou o PSL que está perseguindo. Foi um requerimento oficial do deputado Túlio Gadelha (PDT-PE) que mostrou isso. Está comprovado pelo Facebook. Qual vai ser a desculpa? O Eduardo vai ligar para o papai para reclamar com o Facebook?”.


“Qual vai ser a desculpa? O Eduardo Bolsonaro vai ligar para o papai para reclamar com o Facebook?”, questionou Frota.


O deputado Rui Falcão (PT-SP) também comentou sobre o tema. “Se as pessoas acreditam que o Facebook é de esquerda, então, não tenho o que falar. Na minha campanha nada foi pago pelo Luciano Hang, por nenhum empresário desse conjunto que financia ida a Paulista, protesto contra o Congresso.”

A revelação do envolvimento direto de Eduardo com a rede de fake news que ajudou a minar adversários da extrema-direita e eleger seu pai ganhou destaque na sessão. No fim do ano passado, outro antigo afeto do bolsonarismo que se voltou contra o esquema, Joice Hasselman (PSL-SP), já havia demonstrado o que fora provado agora pelo Facebook.

Na ocasião, a deputada fez um extenso relato de como funcionava a propagação de ataques e disseminação de mentiras nas redes sociais. Tudo começa, de acordo com Joice, com a orientação de Eduardo. Então, uma série de grupos replica as informações e faz um processo de lapidação em cima das mentiras, que passam, inclusive, pelos chamados “robôs”, utilizados para atingir o maior público possível.

A sessão

Joice e Frota descrevem a ação dos bolsonaristas como “milícias virtuais”. Além da máquina pública utilizada para disseminar ódio, empresas também foram contratadas para amplificar os ataques. Entre as empresas, a Yacows, que já teve executivos ouvidos pela CPMI, bem como o ex-funcionário Hans River, que mentiu durante a oitiva e atacou a jornalista Patrícia Campos Mello, uma das primeiras a revelar o esquema bolsonarista de disparos em massa de fake news.

Patrícia comentou a sessão de hoje, que ouviu o diretor-proprietário da empresa AM4 Brasil Inteligência, Marcos Aurélio Carvalho, contratada do PSL para trabalhar durante a campanha eleitoral de 2018. Ele não desmentiu nada do que Patrícia disse e, então, chegou até a dizer que se solidariza com a jornalista, que foi sistematicamente atacada pelo bolsonarismo, inclusive pelo próprio presidente Bolsonaro, com ofensas sexistas.

“Marcos Aurélio Carvalho, dono da AM4, diz na CPMI das Fake News que minha matéria de 18 de outubro de 2018 estava correta no que se refere à empresa dele. Dono da AM4 sugere que CPMI peça backup das mensagens em massa enviadas pela Yacows (…) Só para lembrar, a AM4 não está envolvida nos disparos em massa – matérias falam sobre a Yacows e a Quickmobile”, disse a jornalista.