Risco à democracia

Apoio da Força Nacional ao motim da PM do Ceará é ‘reprovável e perigoso’, diz OAB

Diretor da corporação chamou amotinados de “gigantes”. Durante a paralisação parcial da polícia cearense, foram registrados 241 assassinatos no estado – média de 26,7 por dia

WILSON DIAS/EBC
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Declaração de Aginaldo de Oliveira foi feita durante a assembleia no 18º Batalhão da PM, em Fortaleza, na noite do último domingo (1º), quando os policiais votaram pelo fim do motim

São Paulo – Hélio Leitão, advogado e presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), classificou como “empoderamento irresponsável” das forças de segurança as declarações do diretor da Força Nacional, Antônio Aginaldo de Oliveira, que na segunda-feira (02) chamou os policiais militares amotinados no Ceará de “gigantes” e “corajosos”.

“A declaração do diretor da Força Nacional enaltecendo os policiais fora da lei é algo extremamente reprovável e perigoso. Estamos vivendo um momento de empoderamento irresponsável das forças de segurança, que está virando uma força política e coloca em risco a democracia”, criticou Hélio, em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabanãs, da Rádio Brasil Atual.

De 19 a 27 de fevereiro, período da greve policial, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, foram 241 assassinatos no estado, uma média de 26,7 por dia. De 1 a 18 de fevereiro houve 164 homicídios, média de pouco mais de 9, número semelhante ao de janeiro de 2020, que teve 261 assassinatos o mês todo.

O advogado também criticou o Ministro de Justiça, Sergio Moro, que por sua vez, disse não ter havido radicalismo dos policiais e que os “grevistas” não poderiam ser tratados “de maneira nenhuma como criminosos” – apesar de um deles, ainda não identificado, ter disparado duas vezes contra um senador da República, Cid Gomes (PDT), horas depois que os amotinados declararam toque de recolher na cidade de Sobral e se manterem o tempo todo vestindo capuzes para encobrir o rosto.

“Tivemos a presença do ministro Sergio Moro, no Ceará, que não condenou o movimento, foi evasivo. O presidente Bolsonaro ainda chantageou o governo Camilo Santana (PT) para prorrogar o decreto de lei e ordem. O movimento dos policiais venceu o Estado democrático e a segurança pública está funcionando como barganha política e as forças de segurança estão virando partido político”, condenou o membro da OAB.

A declaração de Aginaldo de Oliveira foi feita durante a assembleia no 18º Batalhão da PM, em Fortaleza, na noite do último domingo (1º), quando os policiais votaram pelo fim do motim. A categoria aceitou a proposta definida por uma comissão especial com integrantes dos três poderes do Ceará, além de representantes da própria PM.

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