dança das cadeiras

Bolsonaro se cerca de ministros militares prevendo “ano difícil”

Sem interlocução com o Congresso, presidente busca manter coesão do governo com aumento de ministros militares

Marcos Correa/PR
Marcos Correa/PR
Preocupação com sua má relação com o Congresso motivou Bolsonaro a se cercar de ministros militares

São Paulo – “Podemos esperar um ano de 2020 bastante difícil para o governo no Congresso”, avalia o professor Wagner Romão, do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para Romão, esse é o principal motivo da substituição do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, pelo general Braga Netto. É o presidente Jair Bolsonaro cercando-se de ministros militares no governo.

Lorenzoni assume o Ministério da Cidadania no lugar de Osmar Terra. Com a mudança, todos os ministros que atuam no Palácio do Planalto agora são militares. Há ainda militares no comando de outras pastas sediadas na Esplanada, assim como em cargos distribuídos em estatais e órgão públicos. Uma situação que não se via desde o final da ditadura.

Para Wagner Romão, o presidente se cerca de militares já vislumbrando maiores dificuldade na relação com deputados e senadores.

“Bolsonaro brigou com o PSL. Entrou em uma enorme enrascada para consolidar a Aliança pelo Brasil (novo partido)”. observa o professor. Para ele, aquela característica do presidencialismo de coalização, em que o Executivo teria força para o próprio governo e uma base no Congresso, não existe no governo Bolsonaro.

“A base que se constituiu na reforma da Previdência foi uma maioria formada de ocasião”, explicou o professor, em entrevista à Rádio Brasil Atual. Ele ressaltou que alguns partidos tinham identidade com a reforma da Previdência, mas muitos deputados votaram pela “velha política de emendas parlamentares, de promessas, cargos e assim por diante”.

“Não é o forte desse governo a interlocução com o Congresso. O que vimos no ano passado e vamos continuar vendo é o protagonismo do Congresso. Nunca se falou tanto no presidente da Câmara e no Presidente do Senado como articuladores políticos.”

Ao mesmo tempo, o governo enfrenta agendas negativas, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, falando mal das empregadas domésticas que foram viajar para Disney, chamando servidores de parasitas, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, teve grande problemas com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Além de Braga Netto, os demais militares no governo abrigados no Planalto são: general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional; general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo; e o major da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Oliveira, chefe da Secretaria Geral da Presidência.

“A entrada do general Braga Neto é a finalização de um processo que veio sendo construído de entrada definitiva da cúpula do exército brasileiro no governo Bolsonaro. Braga Neto e Luiz Eduardo Ramos são militares da ativa, faziam parte do Estado Maior das Forças Armadas. O que é muito diferente dos militares da reserva, que embora tenham um considerável poder, é diferente de ter militares da ativa, que realmente comandam essa força”, disse Romão. Confira a entrevista completa: