mentiras e misoginia

Hans River é alvo de queixa-crime por mentir na CPMI das fake news

Hans River mentiu e difamou a jornalista Patrícia Campos Mello. Em troca, ganhou admiração e defesa de bolsonaristas envolvidos com fake news

Edilson Rodriques/Agência Senado
Edilson Rodriques/Agência Senado
Sem a presença dos defensores do mentiroso, parlamentares da oposição cobraram justiça. Na foto, Lídice da Mata e Humberto Costa

São Paulo – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News contou com uma atuação especial da bancada bolsonarista na sessão de ontem (11). Os deputados ligados ao presidente não fizeram questionamentos, apenas defenderam o depoente Hans River do Rio Nascimento, que comprovadamente mentiu sobre diversos temas.

Já na sessão de hoje, que recebeu dirigentes de empresas de telecomunicações e órgãos de regulamentação do setor, não apareceu ninguém da extrema-direita. Mesmo sem os bolsonaristas, as afirmações de Hans seguiram elevando a temperatura do debate na Casa. Uma série de parlamentares, incluindo a relatora da comissão, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), anunciou que entrará na Justiça contra Hans.

Além de mentir na CPMI, o que é crime, Hans difamou e fez ataques misóginos contra a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello, responsável por reportagem que revelou sua atuação na empresa Yacows, ligada ao disparo em massa de fake news durante as eleições de 2018. A profissional foi convidada para falar no Congresso sobre o tema na próxima terça-feira (18).

“A jornalista que foi aqui atacada contestou ponto por ponto as acusações feitas pelo depoente. Isso constitui, no mínimo, uma possibilidade de testemunho falso. Nessa situação comunico que a Comissão deveria tomar um posicionamento. Vamos encaminhar uma representação ao Ministério Público por falso testemunho”, disse Lídice.

Hans disse que Patrícia teria oferecido favores sexuais em troca de informações, fato que foi prontamente desmentido pela jornalista em matéria da Folha, com provas, como as fotos das telas de conversas entre os dois. A ofensa baixa foi, imediatamente após dita, abraçada por um dos filhos do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que ecoou a mentira tanto em suas redes sociais como na tribuna do Parlamento. Eduardo já fora delatado na CPMI como um dos principais articuladores de fake news durante o último processo eleitoral.

Efeito Bolsonaro

A deputada Natalia Bonavides (PT-RN), que ajudou a desmascarar as mentiras de Hans na sessão anterior, definiu a atitude do depoente como “representação do desrespeito com que o governo Bolsonaro trata a imprensa e os jornalistas”, disse, ao apontar as atitudes de bolsonaristas como tática de “desqualificar quem expõe os escândalos”.

“O filho do presidente prontamente reproduziu e buscou amplificar as mentiras do depoente com objetivo cristalino de tentar desqualificar uma jornalista que fez um trabalho serio e que expôs o submundo da campanha do Bolsonaro (…) Como foi contra mulher, tinha que ter crueldade, de objetificação, sexualização. Um machismo canalha a Patrícia foi vítima”, completou.

Mais escândalos

Afeto de Bolsonaro durante o período eleitoral, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) fez duras críticas ao contexto da CPMI. Antes da base do governo, Frota se distanciou após ser vítima das fake news do bolsonarismo. “Esse é o reflexo de ter no poder o Bolsonaro. Um caso sistêmico de um governo do mal, hipócrita”, disse.

O deputado direcionou suas críticas à bancada do PSL que defendeu Hans. “Corja de mentirosos, falsos moralistas e hipócritas que estavam aqui ontem. Inconsequentes e covardes (…) Assistimos a um sujeito tendencioso, mentiroso, um falso moralista engraçadinho que fez graça com quem aqui estava. Um covarde chamado Hans River que atacou a jornalista Campos Mello, que fez da CPMI um circo, aplaudido por aquela turma da Disney que fica aqui”, disse.

Entre os defensores de Hans, está o deputado Filipe Barros (PSL-SP). Um dos bolsonaristas mais extremistas, Barros foi alvo de uma nova denúncia da Folha. O parlamentar, pessoalmente, é administrador de grupos de WhattsApp que disseminam fake news e mensagens de ódio contra parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos grupos, ainda há espaço para fake news sobre o coronavírus, mensagens homofóbicas, teorias da conspiração e mensagens religiosas.

“Junto aos ataques e fake news, as mensagens compartilhadas trazem principalmente defesas e elogios a integrantes do governo federal e intensa campanha para coleta de assinaturas para a criação do novo partido de Bolsonaro”, afirma a matéria, assinada por Aiuri Rebello.

Sobre mais este flagrante de disseminação de fake news por grupos bolsonaristas, o senador Humberto Costa (PT-CE) cobrou ações. “Parlamentares, inclusive integrantes dessa CPI, são administradores de grupos de WhatsApp que são especializados na divulgação de notícias falsas, inclusive sobre parlamentares, membros do STF, presidentes da Câmara e do Senado. Algo incompatível com o decoro parlamentar. Estamos entrando com representação junto ao Conselho de Ética contra o parlamentar que faz parte dessa CPI e é um dos administradores deste grupo”, disse.


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