Preconceito escancarado

‘Guedes expôs o que a doméstica vê todo dia: a discriminação do governo’

Presidenta do Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos repudia fala do ministro da Economia e cobra retratação. “É uma categoria que passa por tanta discriminação e agora mais essa”

WILSON DIAS/EBC
WILSON DIAS/EBC
Após fala, ministro chegou a ser comparado ao personagem Caco Antibes, conhecido por ter "horror a pobre"

São Paulo – Não causou espanto ao Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos (Sindoméstica) da Grande São Paulo a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, que, nesta quarta-feira (12), ao justificar a alta no dólar, disse que o baixo valor da moeda nos governos anteriores ao de Bolsonaro estava levando até empregadas domésticas à Disney. Para a presidenta da entidade, Janaína Mariano de Souza, esse tipo de fala “só demonstrou o que a doméstica vê em sua luta diária, que é a discriminação por parte do governo”, comenta.

Em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, Janaína destaca as dificuldades históricas dessa categoria de trabalhadoras, que ficaram ainda maiores sob a gestão bolsonarista, e cobra uma retratação por parte de Guedes. “A gente espera, de verdade, que o ministro venha a se retratar, porque é uma categoria que passa por tanta discriminação e agora mais essa”, lamenta.

Mesmo criticado pelo teor elitista e preconceituoso da declaração e sendo comparado ao personagem Caco Antibes, conhecido por ter “horror a pobre”, o ministro do governo Bolsonaro, já conhecido por colecionar falas ofensivas, preferiu minimizar a situação apenas dizendo que sua exposição havia sido tirada de contexto, silenciando-se após a repercussão negativa. 

Janaína lembra, no entanto, que com uma remuneração hoje em média de R$ 1.269, nunca foi fácil em nenhuma época para as empregadas domésticas fazerem viagens internacionais. Mas que o ministro se esquece de mencionar outras situações criadas por seu governo que tornam esse tipo de passeio ainda mais distante, como a “reforma” da Previdência e o estímulo à informalidade, que faz com que a remuneração mensal – já baixa – caia ainda mais, chegando a R$ 755, segundo o IBGE.

“A categoria passa por isso e a gente não vê suporte, não vê uma ajuda do governo, pelo contrário”, contesta a presidenta do Sindoméstica. “A gente vê que é um trabalho duro e que não tem reconhecimento. O problema maior é esse.”

A ‘festa danada’ do ministro  

Enquanto ressalta que era “uma festa danada” com o dólar em baixa e “empregadas domésticas indo à Disneylândia”, a coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, apurou que Paulo Guedes, além de receber um salário de R$ 30,9 mil, conta com uma série de auxílios para morar, comer e dar expediente no Rio de Janeiro, onde tem moradia fixa. Recursos pagos com dinheiro público.

De acordo com reportagem, publicada nesta sexta-feira (14), Guedes recebe dos cofres da União R$ 7.733 por mês de auxílio-moradia, passagens aéreas de Brasília para o Rio, além de um aporte de R$ 458 como auxílio-alimentação. E, até julho de 2019, ainda era remunerado com diárias de R$ 7.501, para dar expediente na cidade onde mora, incluindo em datas sem compromisso na agenda, descreve o jornal. 

A revelação ocorre em meio a outra polêmica que Guedes protagoniza, quando chamou servidores públicos de “parasitas” para defender a “reforma” administrativa do governo, criticando os gastos com o funcionalismo. Em nota, o ministério diz que os auxílios estão previstos em lei e que Guedes não tem imóvel próprio em Brasília. 

Ouça a entrevista da Rádio Brasil Atual








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