Corda esticada

Bolsonaro está perdendo os principais aliados, incluindo o mercado, diz professor

“Ele ameaçou de forma muito grave os poderes da República”, diz Rogério Dultra dos Santos, da Universidade Federal Fluminense

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
Para professor, mercado já percebe incapacidade de Bolsonaro para debelar as crises política e econômica

São Paulo – Ao convocar forças políticas aliadas para ato previsto para 15 de março a seu favor, o presidente Jair Bolsonaro “esticou a corda demais”. Como consequência, deve sofrer as consequências políticas disso. A opinião é do professor Rogério Dultra dos Santos, da Universidade Federal Fluminense, e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

Embora com a ressalva de que essas consequências podem não ser necessariamente um processo de impeachment e perda do mandato, já que esse processo “depende de uma conjunção de forças políticas muito consistentes para ir à frente”, a situação de Bolsonaro é difícil. Para Dultra dos Santos, a conjuntura política pode se alterar rapidamente e, em pouco tempo, o governo Bolsonaro “pode estar em completa insustentabilidade”.

“Ele ameaçou de forma muito grave os poderes da República e está recebendo uma contestação de várias forças políticas”, acrescenta, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Bolsonaro pode, mais uma vez, estar tentando desviar a atenção de mais uma denúncia, aponta o professor. Espera-se para esta quinta-feira (27) matéria da revista IstoÉ sobre um esquema de lavagem de dinheiro no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, quando foi deputado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nas palavras de Dultra dos Santos, a revista vai falar de “uma irmã de milicianos (que) assinava cheques em nome de Flávio”. A denúncia, se confirmada, “atinge o coração do clã Bolsonaro”, acredita.

À RBA, o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello afirmou que Bolsonaro “já deu margem várias vezes a pedido de impeachment”.

Ainda segundo o professor da UFF, o governo está muito enfraquecido, o que piora a situação do ocupante do Palácio do Planalto, “não só pela patente incapacidade de Bolsonaro de gerir as reformas demandadas pela burguesia, como pela incapacidade política e técnica do governo”.

Esse estado de coisas, em sua opinião, “está afastando os apoiadores mais ferrenhos dele”. O principal é o mercado, que “já está lendo que essa instabilidade política e administrativa mostra incapacidade de debelar a crise econômica instalada desde 2015”.


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