Diferenças

‘Nazismo é a negação da luta de classes, o oposto do comunismo’, explica sociólogo

Após demissão de ministro, Bolsonaro e filho foram às redes sociais para tentar equiparar o nazismo e o socialismo. Wagner Iglecias (USP) aponta as principais diferenças

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Foram as tropas da União Soviética que derrotaram o exército nazista em Berlim, pondo fim à Segunda Guerra Mundial

São Paulo – Após exonerar o então secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim, que copiou trecho do discurso do ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, o presidente Jair Bolsonaro foi ao Twitter para repudiar o que chamou de “ideologias totalitárias, como o nazismo e o comunismo”. O deputado federal Eduardo Bolsonaro também publicou mensagem dizendo que pior que o nazismo é o “comunismo/socialismo”. Ele defendeu que, assim como o nazismo, a ideologia socialista também deveria ser criminalizada.

Outra argumentação rasteira procura misturar as ideologias afirmando que o nazismo, na verdade, é um movimento de esquerda, já que a legenda criada por Adolf Hitler adotava a nomenclatura de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Iglecias, doutor em Sociologia, afirmar que o nazismo é de esquerda é uma espécie de “terraplanismo”, e a tentativa de igualar as duas ideologias “não procede”, dadas as suas diferenças essenciais.

Ainda que regimes autodenominados como comunistas também tenham perseguido e exterminado opositores políticos, como na antiga União Soviética, a diferença é que nazismo tem como elementos centrais a superioridade racial e a negação da luta de classes, justamente para se contrapor ao crescimento do movimento socialista, que conquistava cada vez mais adeptos entre a classe operária europeia nas primeiras décadas do século 20, principalmente após a Revolução Russa de 1917.

As más condições de vida da maioria da população, devido à crise que eclodiu em todo o mundo, em 1929, também serviram de impulso às ideias socialistas. O receio de uma revolta popular em grande escala, que se transformaria numa revolução social, foi o que levou os grandes industriais e banqueiros alemães a financiar, apoiar ou ao menos fazerem vista grossa à ascensão do partido nazista. A expectativa dos liberais europeus era de que o militarismo e o discurso expansionista de Hitler se voltaria para o leste e teria como primeiro e principal alvo o regime soviético.

“O nazismo é a extrema-direita, é a negação da luta de classes. É a negação da possibilidade de uma distribuição mais equitativa dos recursos oriundos do trabalho humano e coletivo. Nesse aspecto, é o oposto do comunismo. Aqui, no debate brasileiro, eles têm sido colocados no mesmo plano, e muita gente concorda que são a mesma coisa. Isso tem a ver com a nossa parca educação política”, explicou o professor em entrevista ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (20).

Ele também comentou que a superioridade racial é uma questão central para a extrema-direita. “Cada ideologia tem o seu mote. No caso da extrema-direita, é a raça. A crença na superioridade de uma raça e de uma cultura, em relação às demais. Enquanto a extrema-esquerda, em teoria, prega a igualdade entre todos, e uma construção coletiva de outro modelo econômico, e até mesmo de um outro homem”, destacou Iglecias. As divergências entre as correntes era tamanha que comunistas e socialistas foram perseguidos, presos e levados para campos de concentração, junto com com judeus, ciganos, testemunhas de Jeová e homossexuais, além de outros grupos considerados como “degenerados” pelas autoridades alemãs.

Confira na íntegra a entrevista da Rádio Brasil Atual