Histórias do desgoverno

Jair Bolsonaro teria mandado Queiroz não depor no MP, informa livro ‘Tormenta’

Denúncia é uma das muitas publicadas pela jornalista Thaís Oyama no livro "Tormenta - O governo Bolsonaro, crises, intrigas e segredos", diz revista

Pedro França/Ag Senado | Reprodução | Isac Nóbrega/PR
Pedro França/Ag Senado | Reprodução | Isac Nóbrega/PR
Crescem reações à grave denúncia de que a Agência Brasileira de Inteligência, órgão do governo federal, teria produzido relatórios para orientar como anular processo contra Flávio Bolsonaro no caso Fabrício Queiroz

São Paulo – Jair Bolsonaro teria ordenado e o ex-assessor Fabrício Queiroz faltou a um depoimento convocado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. A denúncia é uma das muitas que estão no livro Tormenta – O Governo Bolsonaro: Crises, Intrigas e Segredos, da jornalista Thaís Oyama.

A obra, a ser lançada pela Companhia das Letras no dia 20, relata ainda que Bolsonaro decidiu demitir Sergio Moro em agosto do ano passado. Foi quando o ex-juiz criticou a decisão de Dias Toffoli sobre o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf, subordinado ao Ministério da Economia), que protegeu o filho Flávio Bolsonaro. O presidente teria sido demovido pelo ministro Augusto Heleno, que avisou: “Se demitir o Moro, o seu governo acaba”. As informações constam de reportagem da revista Época.

O livro relata, segundo a reportagem, que os advogados de Queiroz e Jair Bolsonaro haviam acertado que o assessor iria ao interrogatório em dezembro de 2018. Bolsonaro acabara de ser eleito. Queiroz diria aos procuradores que não poderia falar até sua defesa ter acesso ao processo. E, ainda, que ninguém da família Bolsonaro tinha relação com o caso investigado.

“A avaliação era que, assim, Queiroz não ficaria com fama de fujão, e blindaria a imagem de Jair e Flávio Bolsonaro”, de acordo com a Época.

Dois dias antes do depoimento, no entanto, Bolsonaro teria abortado a operação. Segundo Tormenta, o presidente foi convencido por um advogado a abafar a história e jogar o caso para o STF. Foi o que aconteceu e a defesa de Flávio Bolsonaro conseguiu uma liminar de Dias Toffoli paralisando investigações baseadas em informações de Coaf e Receita Federal.

Sergio Moro

Uma crítica à decisão de Toffoli sobre o Coaf quase custou a demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro. A jornalista relata no livro que Bolsonaro teria ficado irado ao saber que Moro solicitara a Dias Toffoli reconsiderar a liminar que paralisara investigações baseadas em informação do Coaf. O caso Queiroz, que envolve Flávio Bolsonaro, era uma delas.

O presidente teria dito a Moro, em reunião ríspida, que nunca tinha pedido nada ao ministro, e tampouco havia recebido oferta de ajuda dele. Moro nega a reunião.

Carlos, o Zero Dois

Um dos capítulos mais saborosos do livro, segundo a Época, é sobre Carlos Bolsonaro. “Chama-se Zero Dois e conta os bastidores da relação do segundo filho mais velho de Jair Bolsonaro com o pai, os bastidores dos momentos em que ficaram sem se falar”, conta a reportagem.

Teria sido para agradar Carlos que o presidente Bolsonaro colocou Alexandre Ramagem na direção da Abin. O loteamento da administração pública previa ainda dar ao primo Léo Índio um cargo DAS 5, o segundo mais caro na estrutura federal. Mas o ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Alberto dos Santos Cruz, vetou. E depois seria derrubado pela atuação do Zero Dois.

“Bolsonaro, tem uma coisa aqui que eu não posso fazer. Não posso contratar esse menino como das 5”, teria afirmado Santos Cruz ao se deparar com o pedido de contratação do primo de Carlos sobre sua mesa. E argumentou que Léo Índio não preenchia nenhum pré-requisito para ocupar um cargo como DAS 5.  “Bolsonaro não gostou do conselho, mas engoliu. Carlos ficou furioso e guardou em banho-maria a vingança pelo veto ao primo”, contou Oyama.

Nas redes

O sequestro das senhas das redes sociais de Bolsonaro pelo filho Carlos também estão no livro. Ignorando as ordens do pai, Zero Dois manteve por 24 horas na conta do presidente no YouTube um vídeo com ataques do ensaísta Olavo de Carvalho ao vice-presidente da República, general Hamilton Mourão.

“Jair Bolsonaro ficou transtornado. Teclou para os amigos do filho perguntando sobre seu paradeiro. Telefonou para o próprio e lhe mandou seguidas mensagens de WhatsApp — todas sem acusação de recebimento. Naquele dia, o presidente não desgrudou do celular e mal conseguiu despachar”, descreve Tormenta.

Segundo a autora Thaís Oyama, o comportamento de Carlos deixou Mourão irado: Esse filho da puta desse moleque! Não vou falar com ninguém”, respondeu o vice ao chegar no anexo da Vice-Presidência, no dia em que Carlos o atacou mostrando o convite de um think tank americano para sua palestra, semana antes. O convite afirmava que Mourão era a voz da razão no governo Bolsonaro.

Termos chulos

Se no Brasil os termos chulos usados por Jair Bolsonaro caíram na rotina, o mesmo não ocorre fora do país. No exercício da Presidência, Bolsonaro abusa de comentários vulgares mesmo no trato com outros líderes internacionais. Gafes diplomáticas que causam prejuízos à imagem do país.

O livro lembra reunião do G20, em junho, quando Bolsonaro perguntou a Donald Trump se a loja onde ele comprava suas roupas não tinha artigos “também para homem”. O presidente norte-americano vestia uma gravata cor-de-rosa. Trump não entendeu a piadinha.

Bolsonaro insistiu com outra baixaria. Ao apresentar o deputado Hélio Lopes a Trump como Hélio Negão disse que o apelido se devia ao fato de ele ser negro. Mas que,“apesar de negão, ele tem bilau de japonês”.

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