Oscar

Bolsonaristas e tucanos ‘passam recibo’ com indicação de Democracia em Vertigem

Para cientista político Wagner Romão, diretora Petra Costa mostra que é possível fazer arte de maneira crítica, seja qual for o governo vigente

Divulgação
Divulgação
Protagonistas e coadjuvantes do golpe do impeachment se insurgiram contra Democracia em Vertigem no Oscar

São Paulo – A indicação do filme Democracia em Vertigem, da diretora Petra Costa, ao Oscar de melhor documentário de 2019, divulgada nesta segunda-feira (13) provocou reações histriônicas por parte das forças políticas que tiveram participação ativa no golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Bolsonaristas e tucanos fizeram esforços para tentar diminuir o feito importante para o cinema brasileiro.

O perfil do PSDB, pelo Twitter, “parabenizou” a diretora pela indicação de “melhor ficção e fantasia”. Fazendo coro com os tucanos, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno disse, pelas redes sociais, que o filme teria sido nomeado nas categorias “terror, comédia e ficção”. O secretário Especial de Cultura do governo Federal, Roberto Alvim, também ironizou, e disse que a escolha do filme mostra que a “guerra cultural está sendo travada “não só aqui, mas em âmbito internacional.

Confira participação de Petra Costa no Entre Vistas, com Juca Kfouri

Nesta terça-feira (14) pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro também disse se tratar de uma obra de “ficção”. Perguntado se já assistiu ao documentário, afirmou: “Eu vou perder tempo com uma porcaria dessas?” Um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro disse que a indicação ao Oscar não era “à toa”, pois “onde chega a esquerda visa dominar a educação e cultura principalmente”, dando a entender que a academia norte-americana está tomada por perigosos comunistas.

Para o cientista político e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, Democracia em Vertigem mostra o valor da arte “crítica e disruptiva”. “Seja qual for o governo vigente, ainda assim é possível fazer arte de maneira crítica aos poderes constituídos e mostrar uma interpretação contrária ao que se propaga hoje, seja na mídia ou seja por essas forças políticas que questionaram o filme no Twitter”, disse, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na  Rádio Brasil Atual.

Sobre os críticos, ele diz que tentam tirar “uma casquinha” do sucesso do filme, que terá ainda maior visibilidade após a indicação ao prêmio. “Eles sentem, porque o Oscar, gostemos ou não, é a maior festa do cinema mundial.” Romão criticou, em especial, o PSDB, que ora tenta se distanciar da extrema-direita representada por Bolsonaro, se apresentando como representante de um alegado “centro democrático”, ora se alinha com os bolsonaristas, produzindo o mesmo tipo de discurso infantilizado.

Confira a entrevista