Bandas podres

Vaza Jato: jornalistas combinaram matérias e tiveram textos ‘aprovados’ por procuradores

Força-tarefa buscou apoio na mídia para se defender de críticas. Moro permitiu que procuradores dessem informações antes a repórteres de sua escolha

Pedro de Oliveira/ ALEP e Rovena Rosa/Abr
Pedro de Oliveira/ ALEP e Rovena Rosa/Abr
Conluio com profissionais da mídia tradicional participaram da armação do MP em Curitiba, com Moro à frente, para incriminar Lula e tirá-lo da eleição, mostra nova reportagem da Vaza Jato

São Paulo – Nova matéria referente à Vaza Jato, publicada nesta sexta-feira (20) pelo jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o Intercept Brasil, demonstra que, de acordo com áudios vazados, jornalistas combinaram matérias e submeteram textos a procuradores da Operação Lava Jato. De acordo com a matéria, “alguns repórteres submeteram ao coordenador da força-tarefa os textos de suas reportagens antes da publicação, para que apontasse erros ou imprecisões”. O texto acrescenta: “Outros concordaram em publicar entrevistas que Deltan Dallagnol respondeu por escrito, inclusive com o acréscimo de perguntas que não tinham sido feitas”.

A reportagem diz que em dias em que novas fases da operação eram deflagradas, com prisões e buscas realizadas pela Polícia Federal pela manhã, Deltan informava alguns jornalistas com antecedência sobre as ações, encaminhando cedo a eles, pelo Telegram, as notas oficiais que só seriam distribuídas a outros jornalistas mais tarde. “Em pelo menos duas ocasiões”, diz o jornal, “após levantar o sigilo dos autos de um processo, Sergio Moro segurou a divulgação da chave numérica (senhas exigidas para o acesso de todos a mídia ao material) para permitir que os procuradores a fornecessem primeiro a repórteres de sua escolha, que assim teriam acesso à informação antes de outros veículos”.

Não se trata de vazamentos ilegais, já que Moro tornara públicos os autos. Mas ao segurar a divulgação das chaves que davam acesso ao conteúdo, o agora ministro de Bolsonaro garantiu vantagem para os jornalistas selecionados pela força-tarefa em detrimento da promessa original de transparência. Deltan e o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima eram os que mais se relacionavam com a imprensa. Ninguém da força-tarefa devia dar declarações sem que ambos soubessem. Eles tinham entre as suas atribuições a coordenação da assessoria de comunicação e a orientaram a lhes submeter todas as demandas recebidas.

“Deixem-me saber de tudo que acontece de imprensa”, disse Deltan à equipe de comunicação em fevereiro de 2016. “É importante estar situado e pensar juntos na mensagem global a ser passada”. Até jornalistas que eram considerados confiáveis, de acordo com a reportagem, foram tratados com frieza quando sugeriram pautas que a força-tarefa achava negativas, arriscadas ou embaraçosas. Vários procuraram Deltan no Telegram para obter informações sobre acordos de delação premiada quando as negociações com os colaboradores estavam em curso e ficaram sem resposta.

“O repórter deu liberdade para fazer novas perguntas, desconsiderar o que entendesse impertinente, criar”, disse o procurador aos assessores certa vez. “Temos na nossa mão o que queremos para dar o foco em que quisermos… as perguntas que criarmos aparecerão como dele, mas temos que manter é claro sigilo sobre isso rs”, escreveu Deltan.


Texto original: Fórum
Leia a reportagem completa da Folha