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Imagem de Bolsonaro vai piorar quando forem sentidos os efeitos de suas medidas, diz Haddad

Ex-candidato esteve em Porto Alegre, onde recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha pelo trabalho como ministro da Educação. E comentou recentes avaliações do governo

Joaquim Moura/PT Sul
Joaquim Moura/PT Sul
“O destino o colocou numa posição que exige muito mais responsabilidade, e parece que essa compreensão ele não tem", afirmou Haddad, ao comentar o primeiro ano do governo Bolsonaro

Porto Alegre — A pesquisa Datafolha, divulgada no fim de semana, revela que o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro tem a pior avaliação de um presidente eleito desde a redemocratização, perdendo para os ex-presidentes Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Tal percepção já detectada pela população brasileira pode ser ainda pior, segundo o ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato à Presidência da República Fernando Haddad. Para ele, há consequências de médio prazo das medidas que o governo Bolsonaro tem tomado nas áreas da saúde, educação, cultura, meio ambiente e no campo diplomático, e que as pessoas ainda não são capazes de perceber plenamente.

“Essa desfeita de não ir à posse de um país irmão como a Argentina, ofender a esposa do presidente da França, ficar bajulando o presidente americano que, em represália, diz que vai sobretaxar os produtos brasileiros, desprezar a China e o mundo árabe, essas coisas vão muito mal”, afirmou Haddad nesta segunda-feira (9), em Porto Alegre, onde recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha, a maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa gaúcha.

O petista enfatizou que o presidente do país deve ter consciência do cargo que ocupa, uma consciência que Bolsonaro demonstrou não ter durante seu primeiro ano à frente do cargo mais importante da República. “A impressão que dá é que Bolsonaro ainda não sabe quais são as suas responsabilidades. Ele não é mais um deputado federal que podia fazer as bobagens que fazia. O destino o colocou numa posição que exige muito mais responsabilidade, e parece que essa compreensão ele não tem. Isso é o que lamento. Ele representa 210 milhões de pessoas, não representa os sectários que ficam elogiando ele em rede social.”

Sobre o Ministério da Educação (MEC), o ex-prefeito paulistano e ex-ministro foi ainda mais incisivo ao analisar o primeiro ano do órgão no governo Bolsonaro. “Não existe MEC hoje. Você tem lá uma pessoa histriônica no comando que fica mais preocupada em ofender as pessoas no Twitter do que gerir uma máquina de R$ 100 bilhões por ano, que é o orçamento que deixei no Ministério da Educação.”

Homenagem

Criada em 2009, a Medalha do Mérito Farroupilha tem como objetivo reconhecer o trabalho realizado em prol do estado. Haddad foi agraciado com a mais alta honraria concedida pelo parlamento gaúcho justamente por sua atuação à frente do MEC, entre 2005 e 2012, e as realizações em benefício do Rio Grande do Sul.

“Talvez tu não tenhas toda a dimensão dos teus atos”, ponderou o deputado estadual Luiz Fernando Mainardi (PT), proponente da condecoração. Em seguida, o parlamentar gaúcho elencou algumas das conquistas obtidas pelo estado durante a gestão de Haddad no MEC. Entre as realizações, a criação da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com campi em 10 cidades: Alegrete, Bagé, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Uruguaiana.

Houve também a instalação de três institutos federais: o Rio Grande do Sul (IFRS), com reitoria em Bento Gonçalves; o Farroupilha (IFF), com reitoria em Santa Maria; e o Sul-Riograndense (IFSul), com reitoria em Pelotas. Vinculados a estes institutos estão 23 unidades de educação profissionalizante espalhadas pelo estado. 

Em 2009, a gestão Haddad no MEC também criou a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com campi nos três estados da região. Além da expansão das universidades e institutos federais, o período de Haddad como ministro da Educação concedeu 182 mil bolsas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e celebrou 103 mil contratos pelo Programa de Financiamento Estudantil (Fies). “São políticas públicas que mudaram para sempre nosso estado e nosso país”, afirmou o deputado Mainardi. “Não há um rincão desse estado que não tenha recebido os benefícios das tuas políticas.”

Emocionado com a homenagem, Haddad destacou que todos os números da expansão de vagas no ensino superior se tornam realmente importantes quando ele lembra dos jovens que tiveram suas vidas transformadas para melhor ao ingressar numa universidade federal.

“Ter o reconhecimento disso, oito anos depois de deixar o ministério, é algo que me comove muito, sobretudo porque sei que a maior parte dos meninos pobres não teria condição de cursar uma universidade federal se não fosse essa expansão, fora as bolsas do ProUni que também acolheram uma quantidade enorme de talentos aqui do Rio Grande do Sul, que seriam desperdiçados, infelizmente, se não fossem as bolsas de estudo concedidas pelo programa. Então é um conjunto de realizações que permite ao filho do trabalhador poder vislumbrar um futuro melhor para sua família.”