Pediu para sair

Promotora pró-Bolsonaro se afasta do caso Marielle, mas diz que nunca teve influência política

Defendida pelo MPRJ, Carmen Eliza cita "lamentáveis tentativas de macular minha atuação séria e imparcial, em verdadeira ofensiva de inspiração subalterna e flagrantemente ideológica"

Reprodução/Instagram
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"Jamais atuei sob qualquer influência política ou ideológica. Toda a minha atuação é pública", diz promotora

São Paulo – A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que atuava na ação penal relativa às mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, pediu afastamento do caso. A decisão foi tomada após repercussão negativa de imagens e posts em redes sociais que evidenciam seu apoio ao então candidato Jair Bolsonaro. Além de ser defendida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a própria servidora divulgou carta aberta, alegando liberdade de expressão e afirmando que “jamais atuei sob qualquer influência política ou ideológica”.

Promotora fã de Bolsonaro também pediu arquivamento de investigação do caso Amarildo

O MPRJ e a investigação do assassinato de Marielle e Anderson ganharam destaque esta semana, depois que o Jornal Nacional revelou depoimento à polícia do porteiro do condomínio Vivendas da Barra – onde moram o presidente Jair Bolsonaro, seu filho Carlos e o ex-policial Ronnie Lessa, acusado de execução do crime. O porteiro não identificado testemunhou que um dos implicados no assassinato, Élcio Queiroz, entrou no condomínio depois de ser anunciado na casa 58, do presidente. No dia seguinte, o MPRJ desmentiu a denúncia.

“A Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) reconhece o zeloso trabalho exercido pela Promotora de Justiça Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que nos últimos dias vem tendo sua imparcialidade questionada no que afeta sua atuação funcional, por exercer sua liberdade de expressão como cidadã, nos termos do art. 5º da Constituição Federal”, afirma o MP fluminense, em nota. A instituição informa ainda que a sua Corregedoria-Geral instaurou procedimento para análise “diante da repercussão relativa às postagens da promotora em suas redes sociais”.

“O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP recebeu nesta sexta-feira (1º) Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva, pais de Marielle, além da viúva de Anderson, Agatha Arnaus Reis. Segundo o MP, eles “defenderam a permanência de Carmen Eliza à frente do processo penal”, que corre no Tribunal de Justiça. “No entanto, em razão dos acontecimentos recentes, que avalia terem alcançado seu ambiente familiar e de trabalho, Carmen Eliza optou voluntariamente por não mais atuar no Caso Marielle Franco e Anderson Gomes, pelas razões explicitadas em carta aberta à sociedade.”

Segundo o Gaeco, as investigações que apontaram os executores do crime ocorrido em 14 de março de 2018 foram conduzidas pelas promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile Petriz, e depois disso Carmen Eliza “passou a atuar na ação penal em que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são réus, a partir do recebimento da denúncia pelo 4ª Tribunal do Júri da Capital”. A escolha de Carmen “foi definida por critérios técnicos, pela sua incontestável experiência e pela eficácia comprovada de sua atuação em julgamentos no Tribunal do Júri”.

“Não há, nesses 25 anos, um só episódio que tenha sido apontado como comprometedor de minha imparcialidade na atuação funcional. Ao contrário, são anos de luta isenta pela punição de quem atenta contra o maior bem jurídico de cada um de nós: o direito à vida”, afirma a promotora, que aponta as “lamentáveis tentativas de macular minha atuação séria e imparcial, em verdadeira ofensiva de inspiração subalterna e flagrantemente ideológica, cujos reflexos negativos alcançam o meu ambiente familiar e de trabalho”.

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