Eixo do atraso

Governo Bolsonaro articula aliança com governos extremistas na ONU

Revelação é do jornalista Jamil Chade. Aliados internacionais se destacam por medidas homofóbicas e desrespeito aos direitos da mulher

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Governo Bolsonaro é o primeiro da história do Brasil a quebrar tratado celebrado com as Nações Unidas

São Paulo – A diplomacia brasileira iniciou uma articulação com governos extremistas para reforçar no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) uma agenda que, em nome da “família”, teria como objetivo modificar o atual entendimento da entidade a respeito dos direitos humanos.

A revelação é do jornalista Jamil Chade, que em sua coluna relata a movimentação feita à margem das viagens oficiais com países como Polônia, Hungria e Estados Unidos, cujos governos têm uma base ideológica contrária à luta pela igualdade de gênero e pelos direitos LGBT.

Segundo Chade, houve um encontro entre representantes dos quatro países em 23 de outubro e a estratégia seria reforçar na ONU a pauta da “promoção da família” como forma de criar um ambiente favorável. O grupo proporia, por exemplo, uma data em maio de 2020 para ser celebrado o dia mundial da família. Depois, temas mais controversos seriam o alvo do grupo.

A construção da nova aliança ocorre após o governo brasileiro ter conseguido renovar seu mandato no Conselho de Direitos Humanos da ONU e esta “bancada família” seria uma alternativa a um outro grupo dentro da entidade que também usa a bandeira da família, liderado pelo Egito e demais países árabes.

Os aliados do governo brasileiro

Em setembro, o Parlamento Europeu votou de forma favorável à instauração de um procedimento disciplinar contra a Hungria. Na ocasião, o país foi acusado de graves violações dos valores democráticos europeus em diversos temas como imigração, corrupção, liberdades civis e direitos de minorias.

No início daquele mês, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán promoveu uma “conferência demográfica” para discutir ações de incentivo à procriação entre “casais cristãos” para se sobrepor à imigração na Europa. Ali, anunciou um pacote de incentivos financeiros que inclui isenções de impostos para toda a vida às mulheres que derem à luz quatro filhos ou mais. Em 2018, o governo húngaro decidiu proibir os cursos de Estudos de Gênero nas universidades do país.

Já a Polônia é governada desde 2015 pelos ultraconservadores do Partido Lei e Justiça (PiS) e seu chefe, tido como o homem forte do governo, Jaroslaw Kaczynski, já afirmou que o que ele chama de “ideologia LGBT” é uma ameaça para a família e a tradição do país.

A postura do governo forma um ambiente em que ataques contra LGBTs se tornaram frequentes e mais agressivos. Em julho, a primeira passeata do orgulho gay na cidade de Białystok foi atacada por centenas de neonazistas.  Eles avançaram contra manifestantes e policiais com fogos de artifício, pedras e garrafas.