São Paulo

CPI das Universidades não tocou em problemas reais e expôs ignorância de deputados

Presidente da Adunesp avalia que o relatório final não trouxe qualquer indicação de melhoria para as universidades estaduais paulistas, nem pautou questões de fato importantes

Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
CPI das Universidades produziu relatório inócuo sobre os verdadeiros problemas que afetam USP, Unesp e Unicamp

São Paulo – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que se propôs a apurar a gestão das universidades públicas paulistas (USP, Unesp e Unicamp) demonstrou apenas que os deputados estaduais conhecem muito pouco sobre as instituições. Essa foi a conclusão de João Chaves, presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em entrevista à Rádio Brasil Atual. “Isso ficou claramente demonstrado não só durante o transcorrer da CPI, considerando os pedidos que foram feitos às instituições, os comentários que foram feitos por muitos deputados. Mas também com o relatório final, apresentado pela deputada Valéria Bolsonaro (PSL). É um relatório bastante limitado”, afirmou.

Dentre as recomendações colocadas no relatório final estão a redução dos membros dos Conselhos Universitários das três instituições estaduais, com base em instituições americanas privadas. Também foi proposta a cobrança de mensalidade e o aumento do número de trabalhadores terceirizados. A CPI também trataria de um suposto “viés ideológico de esquerda”, que seria dominante entre os professores das universidades.

“O relatório aprovado não toca em nenhuma das questões importantes. Não traz nada que possa melhorar as universidades, que possa dar alguma segurança para a sobrevivência das universidades. Foi apresentado também um relatório alternativo pela deputada Professora Bebel. Este sim, tocou em coisas importantes, mas não foi aprovado”, ressaltou Chaves, aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria.

A comissão também se dedicou a questionar sobre o retorno financeiro imediato de pesquisas. “Essa questão permeou todo o desenrolar da CPI. Colocam o recurso que vai para as universidades como um gasto, quando na verdade é um investimento. O próprio Banco Mundial, que não pode ser considerado de esquerda, diz que traz um retorno de dois dólares para cada dólar investido. E também tem os outros retornos que não são possíveis de medir com a métrica financeira”, explicou.

O presidente da Adunesp apontou outros problemas que seriam passíveis de uma CPI nas Assembleia Legislativa paulista. “O recurso que as universidades arrecadam para pagamento de aposentadorias e pensões não é suficiente para pagar o conjunto de aposentados das universidades. Essa diferença, que nós chamamos de insuficiência financeira, de acordo com a Lei 1.010/2007, tem que ser coberta com o Tesouro do Estado. Mas o governo não cumpre essa lei. Isso produz um rombo muito grande no orçamento das universidades”, afirmou.

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