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Agressão a Glenn é condenada nas redes. David Miranda cobra demissão de Augusto Nunes

Emissora e jornalista lamentam a agressão ocorrida durante o programa "Pânico", mas caso ganha repercussão como sintoma do momento político do país

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No vídeo da agressão de Nunes que circulou pelas redes, Glenn classifica as críticas de Nunes como sendo de um “covarde”

São Paulo – A agressão física do jornalista Augusto Nunes contra o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, durante o programa Pânico, da Rádio Jovem Pan, em São Paulo, provocou reações de solidariedade nas redes sociais na tarde desta quinta-feira (7). No Twitter, o assunto liderou os comentários desde as 14h. E uma petição pública de autoria do deputado federal David Miranda (Psol-RJ) pedindo a demissão de Augusto Nunes rapidamente ganhou adesões.

Nunes é autor de ataques pessoais ao jornalista do Intercept e a sua família, o que criou um clima de conflito prévio ao início da entrevista. A Jovem Pan convidou Greenwald ao programa sem avisá-lo antecipadamente da presença de Nunes.

No vídeo da agressão que circulou pelas redes, Glenn classifica as críticas de Nunes como sendo de um “covarde”. “O que ele fez foi a coisa mais feia, mais suja que eu ouvi na minha carreira como jornalista”, afirmou Glenn. “Ele disse que o juiz de menores deveria investigar nossos filhos e decidir se devemos perder nossos filhos (a guarda das crianças), eles deveriam voltar para o abrigo”, acrescentou.

Glenn é casado com o deputado David Miranda, com quem mantém dois filhos adotivos. No campo político, a oposição à atuação de Glenn se dá por conta da Vaza Jato, série de reportagens publicadas pelo Intercept e outros veículos, que mostram o conluio entre o então juiz Sergio Moro e os procuradores da Operação Lava Jato, sempre para perseguir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e evitar sua participação nas eleições de 2018. Como sabemos, Lula está preso desde abril de 2018 na sede da Polícia Federal em Curitiba, cumprindo uma sentença de cunho político, sem provas das acusações.

No vídeo do confronto entre ambos, Augusto Nunes manifesta sua ira ao trabalho de Glenn, acusando-o de usar material roubado. O jornalista da Jovem Pan ignora a prática jornalística que se valida no interesse público, e que historicamente casos de corrupção foram denunciados por meio de material vazado com resguardo da fonte.

Na explosão do assunto nas redes, líderes do campo democrático saíram em defesa de Glenn. O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad disse que “Glenn é um gigante do jornalismo internacional diante do rebotalho do jornalismo local que é o Augusto Nunes. O pedido de desculpas da Jovem Pan é importante, mas não suficiente pelo mal que esse sujeito faz à democracia brasileira. Augusto Nunes não honra a profissão”, afirmou.

O pedido de desculpas da Jovem Pan a que Haddad se refere veio no fim da tarde. Em nota, a emissora lamenta o episódio. “A liberdade de expressão e crítica concedida pela Jovem Pan a seus comentaristas e convidados, contudo, não se estende a nenhum tipo de ofensa e agressão. A empresa repudia com veemência esses comportamentos.”

“A agressão de Augusto Nunes ao jornalista Gleen Greenwald é o ponto mais baixo a que chegou o jornalismo depois de um longo processo de degradação”, afirma o professor Rodrigo Ratier, da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero.

“A agressão física a um convidado para uma entrevista viola todos os preceitos da conduta profissional dos jornalistas. Lembramos que os jornalistas brasileiros têm um Código de Ética, assim como existe um código de ética em nível internacional, e que seus preceitos devem ser seguidos por todos os profissionais”, afirmaram em nota o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Indignado com a notícia da agressão, o ex-candidato à Presidência Ciro Gomes classificou o jornalista da Jovem Pan como “um verme da imprensa brasileira, destruindo qualquer valor, fazendo da calúnia, da agressão e do insulto e da defesa dos piores valores da direita bandida, agora inclusive a violência, o fascismo, a transgressão ao Estado de direito, democrático”. “Toda a solidariedade à liberdade de imprensa”, defendeu Ciro.

Na época da agressão verbal, em setembro, Nunes respondeu a Glenn em uma rede social: “Glenn me acusou de alvejar seus filhos. Fake news. Apenas constatei q ele lida em tempo integral com mensagens roubadas, o maridão só pensa no caso da rachadinha em q se meteu e nenhum tem tempo p/ cuidar dos filhos. Pare de mentir, Glenn. É outro mau exemplo para as crianças”.

Em nota, o Intercept destacou que repudia o comportamento do jornalista da Jovem Pan. “É uma conduta lamentável utilizar crianças para agredir adversários políticos e mais ainda a recorrer à agressão física em um debate. Também lamentamos o fato de Augusto Nunes já ter dado depoimento à Folha de S. Paulo dizendo que não se arrepende nem um pouco do que fez.”

Confira o vídeo:

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