Caso Marielle

Líder do PT diz que porteiro que envolveu Bolsonaro corre riscos: ‘Estamos tratando com bandidos’

Deputado Paulo Pimenta (PT-RS) também atacou a possibilidade do ministro da Justiça, Sergio Moro, tentar interferir nas investigações, e cobrou providências do STF

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Elcio Queiroz, que foi ao condomínio Vivendas da Barra antes de matar Marielle, publicou foto com Bolsonaro durante a campanha

São Paulo – O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta, alertou que após reportagem do Jornal Nacional na noite de ontem (29) o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra “corre risco de vida”. Em depoimento, o trabalhador afirma que Elcio Queiroz, um dos suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) teve a sua entrada autorizada naquele condomínio, no Rio de Janeiro, pelo “Seu Jair”, após contato por interfone com a unidade 58, casa onde mora o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Na sequência, Elcio teria se encontrado – , com conhecimento do “seu Jair” – com Ronnie Lessa, que morava também no local. O encontro teria ocorrido horas antes do crime.

“Esse porteiro corre risco de vida. Não estamos tratando de uma disputa política. Estamos tratando com bandidos, milicianos, assassinos. O vizinho de Bolsonaro (Ronnie Lessa) tinha 117 fuzis em casa. Estamos falando de pessoas já mataram várias pessoas”, afirmou Pimenta aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (30).

O deputado disse que é preciso que o Supremo Tribunal Federal (STF) aja imediatamente para impedir que Bolsonaro interfira nas investigações. O presidente anunciou que acionou o ministro da Justiça, Sergio Moro, para que o porteiro preste novo depoimento à Polícia Federal (PF). Para Pimenta, se Moro agir nesse sentido estaria se comportando como verdadeiro chefe de uma “polícia política” da família Bolsonaro, comparando-o a Filinto Müller, chefe da polícia política do governo Getúlio Vargas, durante a ditadura do Estado Novo.

Pimenta afirma que o fato de Ronnie Lessa ser vizinho de Bolsonaro e manter relações com a sua família – o filho mais novo do presidente Jair, Renan, teria namorado a filha de Lessa – já seria indício suficiente para que a família presidencial fosse alvo de uma investigação policial.

“Agora a água bateu no queixo, e Bolsonaro está completamente descontrolado. Vociferando que há um plano para prender um filho dele. Ninguém falou no filho dele ontem. Quem falou foi ele. Por que o filho estava na casa? Era o Queiroz que estava na casa? Quem autorizou a entrada do assassino no condomínio? Estamos falando de uma investigação sobre a possibilidade da família do presidente estar no centro de um assassinato”, disse Pimenta.

O líder do PT lembrou ainda o longo histórico do envolvimento da família Bolsonaro com milicianos. A mãe e a esposa do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar Adriano Magalhães da Nóbrega, por exemplo, trabalhavam até novembro do ano passado no gabinete do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro. Adriano é considerado um dos líderes do grupo miliciano “Escritório do Crime”. Sua mãe depositou R$ 4,6 mil na conta de do ex-assessor Fabrício Queiroz. Ele é suspeito de comandar esquema de “rachadinha”, desviando parte dos salários dos funcionários nomeados. Queiroz, por sua vez, transferiu R$ 24 mil para a conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o que estreita laços da família presidencial com o esquema.

“A relação de promiscuidade e intimidade, as homenagens que foram feitas a milicianos por Flávio e Carlos Bolsonaro, e pelo próprio Jair Bolsonaro, as nomeações de milicianos e parentes de milicianos, cargos na executiva do PSL ocupados por parentes de milicianos. Tudo isso já era mais do que suficiente para que a Polícia Federal tivesse instaurado uma investigação. Estamos falando da família do presidente, e não de uma investigação qualquer”, afirmou Pimenta, para quem as investigações dessas relações suspeitas não avançaram por conta da ação de Moro para blindar o círculo próximo do presidente.

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