Essencial e imperfeita

Histórias do jornalismo têm defesa da democracia e também vacilos

Atacada pelo governo Bolsonaro, que ajudou a eleger, imprensa segue aos trancos e barrancos como quarto poder. De um lado, abalada pelos novos modos de censurar; de outro, com uma autocrítica por fazer

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São Paulo  – “Há uma recusa em discutir uma cortina de fumaça da censura. Não se fala mais disso. Bolsonaro garantiu, enquanto não abre a discussão em hipótese alguma. Então, veio uma coisa pior: a asfixia da imprensa pelo poder econômico.” A fala do jornalista Juca Kfouri, colunista da Folha de S.Paulo, rádio CBN, UOL e apresentador do programa Entre Vistas, da TVT, traz à tona a situação da imprensa no atual contexto político brasileiro.

O tema norteou a mesa Jornalismo e Defesa da Democracia, na noite de sexta-feira (18), no seminário “Democracia em Colapso?”. O seminário, realizado entre os dias 15 e 19, pela editora Boitempo e Sesc São Paulo, com apoio da RBA, reuniu para esse debate além de Juca, as jornalistas Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, e Marina Amaral, da Agência Pública, com mediação de Daniela Pinheiro, para refletir, além da conjuntura política aplicada ao jornalismo, o papel da imprensa nesses tempos.


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Veja aqui o que mais rolou no seminário “Democracia em Colapso?”

 


 

“Temos de investigar cada vez mais, temos de nos aliar cada vez mais com outros jornalistas e veículos. E temos de nos proteger. O governo está indo cada vez mais para uma direção autoritária. Temos um presidente que faz apologia à tortura” (Marina Amaral)

“É o momento de ser mais jornalista do que nunca, saber não estar cobrindo um governo normal. Não é descabido pensar na censura da imprensa. Por enquanto isso é feito por meio do assédio, mas não sabemos para qual caminho isso vai”, disse Marina Amaral.

Diante dessas questões apontadas, Juca alerta que não há nada como a informação. “Pode demorar para vingar, para florescer, ela pode abalar a cabeça das pessoas que queiram ver malícia, pode deixar algumas interrogações por algum tempo, mas sempre chega um dia em que alguém vem, de onde você menos espera, e disso tudo, aquilo foi verdade, depois de tantas ameaças, de tantos processos tanta mentira, vai se confirmar”.

A cobertura da Lava Jato não foi uma cobertura da Lava Jato. Forma onze jornalistas dentro do gabinete do Janot recebendo coisas no colo e publicando no dia seguinte sem checar. Isso é uma bola entre as pernas da imprensa brasileira” (Juca Kfouri)

Patrícia, que foi processada por seu trabalho pelo presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL), falou sobre a estrutura formada com o objetivo de calar a imprensa, e que não se refere apenas do governo federal. “Empresários, como o Luciano Hang (dono da rede de lojas Havan), também estão agindo assim. Ele me processou em R$ 2 milhões. Não é fácil. Esse é só um caso, tem um monte de jornalista processado. O que é assustador é o aparelhamento, também, do Judiciário”, diz.

“Na Polônia, na Hungria, por exemplo, aposentaram um monte de juízes e colocaram amigáveis. Há duas semanas, existe uma investigação sobre uso de WhattsApp para disseminar fake news. Essa investigação tinha sete testemunhas (pró-Bolsonaro) de um lado; e eu e outro repórter de outro. O juiz fez com que só testemunhas do Bolsonaro fossem ouvidos” (Patricia Campos Mello)


Com reportagem de Cláudia Motta