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Lula lembra acordo com Eduardo Campos, afaga Marta e explica Ciro

Em nova entrevista, ex-presidente faz balanços de alianças políticas, lembra que projetou Campos vice em 2014 e presidente em 2018 e diz querer saber o que passa na cabeça de Ciro Gomes

Reprodução UOL
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"Tem algumas pessoas que eu gosto de graça. Não precisam gostar de mim. O Ciro é um cara que gosto dele. O que ele precisa entender é que as outras pessoas, que não são tão inteligentes como ele, têm a sua própria inteligência. E precisa aprender a conviver com isso."

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva distribui “paz e amor” em nova entrevista publicada nesta sexta-feira (18) pelo portal UOL. A primeira parte saiu ontem – por conta do início da votação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de ações que podem libertar o ex-presidente e outras 5 mil pessoas presas sem condenação transitada em julgado. Hoje, Lula fala com Leonardo Sakamoto e Flávio Costa sobre políticos como Ciro Gomes e Marta Suplicy, que em diferentes situações passaram a bater duro no ex-presidente e no PT.

Marta assumiu a postura contrária ao partido por ter sido preterida na eleição municipal de 2012, quando Lula ajudou a eleger Fernando Haddad em São Paulo. Eleita senadora pelo PT em 2011, ela rompeu com a legenda, mudou para o MDB de Temer e o ajudou no golpe que começou a implantar o programa de Aécio Neves (PSDB). Recentemente, embora não assuma um arrependimento, deixou o MDB, disse que não disputará mais eleição (atuará politicamente na sociedade civil), passou a maneirar nas palavra sobre o PT e a defender “Lula Livre”.

Lula afirma ter lamentado a saída de Marta, cita sua gestão na prefeitura de São Paulo (2001-2004) e não oferece obstáculo a um possível retorno. “Se a Marta quiser, deve voltar, ela tem relação com todo mundo e ainda continua sendo a prefeita mais bem avaliada de São Paulo.”

Sobre Ciro Gomes, o ex-aliado que tem disparado sua metralhadora giratória contra o ex-presidente e o PT, Lula diz: “Gostaria de entender o que está se passando na cabeça do Ciro” . Na eleição presidencial de 2018, Ciro, candidato, não engoliu a manutenção da candidatura Lula, a escolha de Haddad para substituí-lo, nem o assédio petista ao PSB, que tirou a legenda do apoio ao PDT.

O ex-presidente admite que tem acompanhado os movimentos de Ciro Gomes, e o alfineta: “Toda vez que disputa uma eleição, procura um partido e entra. Não tem um perfil ideológico. De quantos partidos o Ciro já foi? Oito, nove, dez. Sei lá quantos. Ou seja, ele não gosta de compartilhar, de coletivizar as coisas. O PT não aceita isso”, diz. Para em seguida oferecer afago. “Eu gosto do Ciro. Acho que ele é uma figura que tem conhecimento intelectual para contribuir com qualquer governo”.

Central do Brasil

E se dispõe a ser um conselheiro político do hoje adversário, citando o filme Central do Brasil: “Eu vi a Fernanda Montenegro tentando ajudar aquele menino. E aquele menino não queria ajuda da Fernanda Montenegro, e eu lembrei do Ciro. Eu gostaria que o Ciro permitisse que eu fosse a Fernanda Montenegro dele. Sabe, que eu pudesse contribuir com o compartilhamento da convivência dele com as outras forças políticas”.

Nas eleições de 2014, Lula lembra ter defendido a indicação de Eduardo Campos (PSB) para vice de Dilma, para posteriormente apoiá-lo na cabeça de chapa em 2018. O ex-governador de Pernambuco acabou saindo com candidatura própria e morreu em acidente de avião durante a campanha – sua vice na chapa, Marina Silva, assumiu a candidatura na legenda.

Lula responde ainda perguntas sobre futura candidatura em 2022 e sobre temas polêmicos, como questões ambientais e a Lei de Drogas, aprovada em seu governo, sancionada por ele em 2006 e hoje classificada por especialistas como responsável pelos abusos policiais nas periferias e o encarceramento em massa de jovens que acabam capturados pelo crime.

“Se foi um erro, só tenho que pedir desculpas. Mas, veja, foi uma lei surgida na conferência nacional e que depois foi debatida no Congresso, que chegou na minha mesa, com a aprovação de todos os líderes também da época. Houve erro? É preciso ser corrigido. Eu sempre disse publicamente que você não pode tratar o usuário como o traficante. O cidadão que está fumando um baseado, o cidadão que cheira uma carreirinha, esse cidadão tem que ter um tratamento. Não pode prender um cara desse, tratando como se fosse um traficante. Não pode tratar como o agente que levou 39 quilos dentro do avião de apoio ao presidente Bolsonaro, que, aliás, não sei o que foi feito ainda disso”, afirma Lula.

A entrevista pode ser lida aqui. E assistida na íntegra no vídeo a seguir, de uma hora de duração.