instinto animal

Com vídeo do leão atacado por hienas, Bolsonaros tentam esconder Queiroz e seus laranjas

Cientista social da UFABC diz que constantes ataques às instituições também servem para esconder a incapacidade do presidente de governar o país

Reprodução
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Enquanto Bolsonaro se vende como vítima das instituições, Queiroz xinga procuradores que investigam rachadinha

São Paulo – Para o cientista social Paulo Roberto Souza, pesquisador do laboratório de tecnologias livres da Universidade Federal do ABC (UFABC), o vídeo do leão atacado por hienas publicado ontem (29) no Twitter do presidente Jair Bolsonaro é uma tentativa de encobrir a repercussão negativa da divulgação de novas conversas envolvendo o ex-assessor e ex-policial militar Fabrício Queiroz. Trata-se, diz o analista, de agitar os seus apoiadores mais radicais mas, contraditoriamente, passa a mensagem de que o governo está debilitado, representada pela imagem do animal à beira da morte.

“Esse tipo de situação é uma tentativa de mobilizar aquele núcleo duro de apoiadores, que as pesquisas de opinião mostram ser cada vez menor, mas que nas redes sociais ainda faz muito barulho. Por outro lado, também ajuda a ocultar um pouco caso Queiroz, sobre as últimas gravações vazadas”, afirmou Souza aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (29).

O vídeo que associa partidos políticos (incluindo o PSL), instituições (como a ONU e a OAB), movimentos sociais e veículos de imprensa como a hienas espreitando o leão, que representa o presidente, causou reação inclusive do ministro Celso de Mello, decano do STF, uma das instituições também atacadas na publicação. “O atrevimento presidencial parece não encontrar limites”, declarou o ministro. Suspeita-se que o vídeo seja obra de um dos seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), responsável pela comunicação virtual do pai.

Em áudio divulgado pelo portal Uol nesta segunda (28), Queiroz xinga promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) por terem divulgado à imprensa depoimento em que um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) admite que depositava dois terços do salário em sua conta bancária. “Esses depoimentos, cara, eles vão lá e pegam mesmo, esses filhos da p…, rapaz. Até demorou a pegar”, diz o ex-policial.

Ele foi a primeira testemunha ouvida em processo que apura desvios de dinheiro público a partir da prática da “rachadinha”, quando funcionários nomeados devolvem parte do salário recebido. A suspeita é que Fabrício Queiroz fosse operador desse esquema que também beneficiava a família Bolsonaro.

No domingo (27), dessa vez em conversa divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, Queiroz reclama da falta de ações de seus correligionários para protegê-lo das investigações do MP-RJ que, segundo o próprio, estaria com um “cometa para enterrar na gente”. Em outro trecho, Queiroz diz que conversou com o próprio presidente sobre a demissão de uma funcionária fantasma, de modo a apagar indícios da prática ilegal. “Na época, o Jair falou para mim que ele ia exonerar a Cileide porque a reportagem estava indo direto lá na rua e para não vincular ela ao gabinete”. Na semana passada, o jornal O Globo mostrou que, apesar de sumidos dos holofotes, Queiroz ainda pretendia interferir em nomeações políticas e reivindicando boas comissões em dinheiro pelo agenciamento. “Tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles (família Bolsonaro) em nada. 20 continho aí para gente caía bem”.

Apesar das reclamações de Queiroz, Paulo Roberto Souza chama a atenção para a  atuação “passiva” do MP-RJ, segundo ele.  “A gente também não vê nenhuma manifestação do Ministério Público. Afinal, ele não precisa ser intimado para dar depoimento? Não precisa se defender dessas revelações?”, afirma o cientista político, que lembra que até mesmo a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que recebeu cheque de R$ 24 mil do ex-assessor, ainda deve explicações públicas.

Além de acobertar Queiroz e falar para os seus radicais, os constantes ataques de Bolsonaro às instituições revelam o seu despreparo para as funções públicas. “Bolsonaro não tem a mínima condição de ser presidente da República de uma das dez maiores economias do mundo. Ele não consegue articular politicamente diversas demandas. Inclusive para demandas pelas quais ele foi eleito, ele não tem resposta. Ele não tem política pública, não tem estratégia de política externa ou econômica”, concluiu.

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