O Poderoso Chefão

Bolsonaro teria mandado deputado “calar a boca” para defender Queiroz

O deputado ex-apoiador de Bolsonaro Alexandre Frota (PSDB-SP) denunciou intimidação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para proteger Queiroz

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"Meu telefone tocou. Era Jair Bolsonaro reclamando que eu teria pedido a prisão do Queiroz", disse Frota

São Paulo – O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) Flávio Queiroz, investigado em um esquema de corrupção que envolveria toda a família Bolsonaro, foi protegido pelo próprio presidente, Jair Bolsonaro (PSL), de acordo com o parlamentar Alexandre Frota (PSDB). Ele denunciou o caso hoje (30), durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News. Foram duas intimidações, segundo o relato.

“Caí na provocação do nobre deputado Paulo Pimenta (PT-RS). No início do mandato, ele apontou para o grupo do PSL e falou: ‘quero saber se vocês, depois de todas as notícias sobre o Queiroz, se alguém do PSL vai pedir a prisão do Queiroz’. O Frota caiu. Eu subi e pedi a prisão do Queiroz”, disse o parlamentar que, na época, integrava a base do partido do presidente. “Meu telefone tocou. Era Jair Bolsonaro reclamando que eu teria pedido a prisão do Queiroz”, completou.

“Papai ficou chateado”

O caso ainda ganha um tom que poderia integrar o filme O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola. “Na sequência do telefonema, aparece o senador Flávio Bolsonaro e me dá um abraço: ‘Papai ficou chateado’, ele disse. Fiquei desestruturado. Ninguém esperava o caso Queiroz. Tinha dito que Bolsonaro era o mais ilibado e, na primeira semana de legislatura, acontece o caso Queiroz”, disse Frota.

“Cala essa matraca, porra!”

A segunda intimidação de Bolsonaro aconteceu durante um evento no Palácio do Planalto, segundo Frota. “Bolsonaro já estava atordoado comigo porque eu estava entrando em rota de colisão, quando chego no Palácio, ele me puxa pelo braço, coloca a mão na boca e diz: ‘cala essa matraca, porra’”.

Frota aceitou a quebra de seu sigilo telefônico, para provar a acusação. Além disso, o deputado entregou uma ampla relação de nomes que ligam a família Bolsonaro a um esquema de disparo em massa de fake news e de difamação de opositores.

“Lugar de miliciano é na cadeia”

Os casos relatados pro Frota incendiaram a CPMI. Parlamentares de diferentes partidos apontaram a gravidade da situação. Apenas o PSL saiu em defesa do presidente. O filho de Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), chegou a fazer uma “participação especial” na sessão: Chegou, pediu a palavra, falou que Frota era “indigno”, “ator pornô”, entre outros insultos e, na hora da resposta e do debate, fugiu da sala.

Paulo Pimenta falou na sequência de Eduardo e lamentou a fuga do cidadão. “A proteção ao Queiroz é comandada pelo próprio Jair Bolsonaro, que liga para deputados para exigir proteção à essa figura denunciada. Bolsonaros estão desesperados. Eduardo fala o que quer, vira as costas e foge. Além de mimados são covardes e vão acabar na cadeia, junto com o Queiroz. Lugar de miliciano é na cadeia.”

Frota é de esquerda? É do Foro de São Paulo?

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o deputado Rui Falcão (PT-SP), oficializaram a quebra do sigilo telefônico de Frota, que reiterou seu aceite. “Pela primeira vez, existe um depoimento que dá conta que o presidente da República entrou em contato com um parlamentar para que ele não se manifestasse em relação a um investigado pelo Ministério Público. Que foi chamado para depor e não foi. Se trata de obstrução da Justiça. Podemos começar a saber quem está escondendo Queiroz”, disse Randolfe.

“Estaremos prevaricando se não tomarmos nenhuma medida oficial sobre essas afirmações do deputado”, disse Falcão, que aproveitou para tirar algumas “dúvidas” que podem pairar sobre as cabeças bolsonaristas mais radicais. “Você é comunista?”, provocou Falcão; “é de esquerda?; integra o Foro de São Paulo?”. Todas as respostas de Frota foram negativas; ele afirmou ser de centro-direita, e que flertou com a extrema-direita.

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