faces da mesma moeda

Tom destemperado de Bolsonaro é manifestação de quem está abalado e acuado, diz cientista político

Para cientista político Vitor Marchetti, matéria do Jornal Nacional coloca presidente no centro do assassinato de Marielle e reação dele demonstra desespero

REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
O presidente Jair Bolsonaro já demonstrou a intenção de acionar o ministro da Justiça, Sergio Moro, para colher depoimento do porteiro. Para Marchetti, ação do governo será para silenciar a denúncia

São Paulo – O depoimento do porteiro do condomínio onde mora o presidente Jair Bolsonaro é o “elo que faltava” para evidenciar a relação da família Bolsonaro com a milícia. A afirmação é do professor e cientista político Vitor Marchetti, sobre a ida de Élcio Queiroz, um dos suspeitos do assassinato de Marielle Franco (Psol), ao Vivendas da Barra, pedindo para ir à unidade 58, onde mora o presidente da República.

Segundo as informações da reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite desta terça-feira (29), o depoimento do porteiro mostra que “seu Jair” teria atendido o interfone autorizando a entrada, mas o carro de Élcio Queiroz teria se dirigido à casa de Ronnie Lessa, suposto autor da execução de Marielle e o seu motorista, Anderson Gomes.

Para Vitor Marchetti, outras denúncias já apontavam a ligação da Bolsonaro com milicianos, que fica mais explícita com o depoimento do porteiro.  “A matéria coloca o presidente da República no centro de um caso que ganhou repercussão mundial. Esse assassinato já era um marco da política brasileira, mas os fatos vão reforçando mais a relação da família Bolsonaro com as milícias. A gente já pode afirmar que são faces da mesma moeda. Eram todos vizinhos, muito próximos, essa relação já estava estabelecida”, afirmou ele, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

O presidente Jair Bolsonaro já demonstrou a intenção de acionar o ministro da Justiça, Sergio Moro, para colher novo depoimento do porteiro. algo que configuraria obstaculização da Justiça, segundo o jurista Pedro Serrano. O cientista político pede que a sociedade civil continue atenta em relação ao caso e sobre os movimentos que o presidente tomará, para evitar que abafe o caso.

Cerca de meia hora depois da reportagem, Jair Bolsonaro fez uma live em sua página no Facebook. Durante 23 minutos, o presidente atacou a Globo e mais de uma vez mencionou o fato de que a TV terá de renovar sua concessão em 2022. O presidente da República, muito alterado, falou em perseguição e usou várias vezes o termo “patifaria” para se referir à emissora.

De acordo com o professor, a própria reação do presidente da República prova que a denúncia é grave. “O tom destemperado é a manifestação de quem está abalado e acuado. O filho Carlos Bolsonaro também já diz que não estava na casa, ou seja, isso tudo mostra o impacto da informação”, avaliou.

• Pedro Serrano vê indício de crime de responsabilidade se Bolsonaro interferir no caso Marielle
• Bolsonaro ‘quebra ordem constitucional’ ao tentar intervir em investigação com Moro
Viúva de Marielle Franco critica falta de transparência das investigações
Psol vai pedir ao STF para barrar tentativa de Bolsonaro de interferir nas investigações
• Jurista vê indício de crime de responsabilidade se Bolsonaro interferir no caso

Ouça a entrevista na íntegra

Leia também

Últimas notícias