Tom destemperado de Bolsonaro é manifestação de quem está abalado e acuado, diz cientista político
Para cientista político Vitor Marchetti, matéria do Jornal Nacional coloca presidente no centro do assassinato de Marielle e reação dele demonstra desespero
Publicado 30/10/2019 - 11h39
São Paulo – O depoimento do porteiro do condomínio onde mora o presidente Jair Bolsonaro é o “elo que faltava” para evidenciar a relação da família Bolsonaro com a milícia. A afirmação é do professor e cientista político Vitor Marchetti, sobre a ida de Élcio Queiroz, um dos suspeitos do assassinato de Marielle Franco (Psol), ao Vivendas da Barra, pedindo para ir à unidade 58, onde mora o presidente da República.
Segundo as informações da reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite desta terça-feira (29), o depoimento do porteiro mostra que “seu Jair” teria atendido o interfone autorizando a entrada, mas o carro de Élcio Queiroz teria se dirigido à casa de Ronnie Lessa, suposto autor da execução de Marielle e o seu motorista, Anderson Gomes.
Para Vitor Marchetti, outras denúncias já apontavam a ligação da Bolsonaro com milicianos, que fica mais explícita com o depoimento do porteiro. “A matéria coloca o presidente da República no centro de um caso que ganhou repercussão mundial. Esse assassinato já era um marco da política brasileira, mas os fatos vão reforçando mais a relação da família Bolsonaro com as milícias. A gente já pode afirmar que são faces da mesma moeda. Eram todos vizinhos, muito próximos, essa relação já estava estabelecida”, afirmou ele, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.
O presidente Jair Bolsonaro já demonstrou a intenção de acionar o ministro da Justiça, Sergio Moro, para colher novo depoimento do porteiro. algo que configuraria obstaculização da Justiça, segundo o jurista Pedro Serrano. O cientista político pede que a sociedade civil continue atenta em relação ao caso e sobre os movimentos que o presidente tomará, para evitar que abafe o caso.
Cerca de meia hora depois da reportagem, Jair Bolsonaro fez uma live em sua página no Facebook. Durante 23 minutos, o presidente atacou a Globo e mais de uma vez mencionou o fato de que a TV terá de renovar sua concessão em 2022. O presidente da República, muito alterado, falou em perseguição e usou várias vezes o termo “patifaria” para se referir à emissora.
De acordo com o professor, a própria reação do presidente da República prova que a denúncia é grave. “O tom destemperado é a manifestação de quem está abalado e acuado. O filho Carlos Bolsonaro também já diz que não estava na casa, ou seja, isso tudo mostra o impacto da informação”, avaliou.
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