Tensão no tribunal

Papel da imprensa foi decisivo para desmandos da Lava Jato, diz Gilmar Mendes

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, ministro do Supremo responde à declaração do ex-procurador Rodrigo Janot, que disse que intencionava matá-lo

Antonio Cruz/Agência Brasil
Antonio Cruz/Agência Brasil
Mendes: “Eu falei ontem no plenário do Supremo: nada se poderia falar contra a Lava Jato. Não se poderia contrariar o espírito da Lava Jato"

São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes fez críticas à Operação Lava Jato no início da noite desta sexta-feira (27), ao comentar declaração do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot, de que chegou a entrar armado no STF com a intenção de matar Mendes. “Eu jamais imaginei correr risco de vida. Na verdade, eu acho que o Direito brasileiro correu muito risco com o Janot e sofreu realmente muitos ataques. Mas não imaginávamos que chegaríamos a isso da morte física, ou à tentativa de atentado como se promete aí”, afirmou Mendes em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, no programa O É da Coisa, na Band News FM.

“Tenho a impressão de que todos nós estamos descobrindo lentamente dessa realidade subjacente a essas operações. Eu já falei em algum momento que havia um tipo de organização para investigar o crime, mas que também cometia crimes. E agora a gente vê que poderiam chegar até ao assassinato”, acrescentou o ministro do STF. “A gente tem de perguntar o que fez de errado nesses anos todos para produzir esse monstrengo institucional. Essa é uma pergunta que temos de fazer. O que fizemos de errado para produzir esse monstrengo chamado Procuradoria-Geral da República, chefiada por gente como Janot. É uma pergunta que temos de responder”, disse.

Ao ser indagado pelo jornalista se teria alguma hipótese para responder essa questão, Mendes afirmou: “Eu tenho a impressão de que em algum momento essa instituição fugiu de todo o controle. O sistema de checks and balances na verdade faleceu aqui em relação a eles. Eles passaram a ser soberanos na ordem jurídica. E aí todos nós temos responsabilidades. Nós do Supremo Tribunal Federal, as pessoas da imprensa – e aqui acho que o papel da imprensa é decisivo. Essa gente em algum momento assumiu o papel de verdadeiros deuses”.

Déspotas obscuros

E continuou: “Eu falei ontem no plenário do Supremo: nada se poderia falar contra a Lava Jato. Não se poderia contrariar o espírito da Lava Jato. A Lava Jato estabeleceu uma nova Constituição e nós estamos vendo que nem sequer déspotas iluminados eram, pelo contrário, eram déspotas obscuros”.

A declaração polêmica de Janot foi dada a alguns veículos de imprensa ontem. Janot pediu a suspeição de Gilmar Mendes em maio de 2017, quando estava à frente da PGR, em casos relacionados com o empresário Eike Batista, que ao se tornar investigado da Lava Jato foi defendido pelo escritório da mulher do ministro, Guiomar Feitosa Mendes.

Segundo a Agência Brasil, a Polícia Federal realizou na tarde de hoje ação de busca e apreensão na casa e no escritório do ex-procurador-geral, em Brasília. As buscas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ele também suspendeu o porte de arma de Janot, além de proibi-lo de se aproximar de integrantes da Corte e de entrar nas dependências do tribunal.