Justiçamento

Após ‘confissão assassina’ de Janot, Mendes diz que combate à corrupção está ‘nas mãos de fanáticos’

Em entrevista, ex-procurador revelou intenção de matar o ministro do STF e cometer suicídio. "Recomendo que procure ajuda psiquiátrica", sugeriu o magistrado

Nelson Jr./STF
Nelson Jr./STF
"Ia matar ele e depois me suicidar", disse Janot sobre o ministro do STF

São Paulo – O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) reagiu à confissão do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que afirmou, em entrevista à revista Veja e ao jornal O Estado de S. Paulo, ter ido armado a uma sessão da Corte, em 2017, com a intenção de matá-lo. Mendes lamentou que “parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas”. Ele também afirmou que o combate à corrupção, no Brasil, tornou-se refém de “fanáticos”.

Janot afirmou que, depois de matar Mendes, se suicidaria. “Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar”, declarou. O ministro classificou a intenção como “gesto tresloucado” para livrá-lo da responsabilização pelo crime, em atitude motivada por “oportunismo e covardia”.

“Confesso que estou algo surpreso. Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer”, reagiu Mendes, em nota.

O impulso assassino teria sido motivado, segundo o ex-procurador, por conta de uma suposta “história mentirosa” difundida pelo ministro de que sua filha teria advogado para envolvidos na Operação Lava Jato. “Foi logo depois que eu apresentei a sessão (…) de suspeição dele no caso do Eike”. A revelação, que cita o empresário Eike Batista, consta em livro recém-lançado por Janot.

O magistrado disse ainda que o ex-chefe do Ministério Público Federal, tendo confessado a intenção de matar um ministro, também não teria medo de assassinar reputações, e levantou suspeitas sobre a condução de outras ações penais pelo ex-procurador-geral. “Recomendo que procure ajuda psiquiátrica. Continuaremos a defender a Constituição e o devido processo legal”, sugeriu Mendes.