#VazaJato

Procurador pagou proganda ilegal da Lava Jato, e foi protegido por corregedor do Ministério Público

Diogo Castor de Mattos instalou outdoor louvando Lava Jato e confessou erro. Corregedor Oswaldo Barbosa arquivou caso depois de conversas com Dallagnol

Divulgação MPF / reprodução The Intercept Br
Divulgação MPF / reprodução The Intercept Br
Diogo Castor de Mattos, o mais jovem dos procuradores da Lava Jato, confessou conduta antiética, mas não foi punido. Denúncia foi feita por live do The Intercept Brasil. Nos destaques, os jornalistas Leandro Demori e Amanda Audi

São Paulo – Nova reportagem da série Vaza Jato, mostra que integrantes da Operação Lava Jato pagaram por uma peça publicitária para louvar os resultados da operação, o que contraria alguns princípios da atividade do Ministério Público. A iniciativa foi mal recebida pela cúpula da força-tarefa e foi relatada ao corregedor-geral do Ministério Público Federal, Oswaldo Barbosa que, porém, nada fez e acobertou o erro.

O procurador Diogo Castor de Mattos confessou que pagou por um outdoor para promover a Lava Jato. A peça, instalada ao lado do aeroporto de Curitiba, era ilegal e mostrava integrantes da equipe de investigação acima de frases como “Aqui a lei se cumpre” e o “Brasil agradece”.

É papel do corregedor abrir inquérito sobre desvios de conduta de membros do MPF, mas Barbosa deu o caso por encerrado sem investigação formal – e omitiu a confissão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que também poderia punir o procurador.

Áudios recebidos pelo The Intercept Brasil mostram que membros da cúpula da força-tarefa sabiam da confissão, e o episódio causou preocupação, já que o ato poderia prejudicar a imagem da Lava-Jato junto à opinião pública. Nos bastidores, o grupo atuou para esvaziar a apuração e a publicidade do caso. O coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, intermediou conversas com Barbosa para proteger Castor de Mattos, mesmo sabendo da confissão de culpa.

As mensagens indicam que o corregedor disse a Dallagnol que iria suspender apurações e manter o caso em segredo. O lobby foi bem-sucedido. Cerca de 20 dias depois da confissão de Castor de Mattos chegar à corregedoria do MPF, e ter sido mantida sob sigilo, a representação no CNMP foi arquivada. “A publicidade não foi contratada por nenhum membro do Ministério Público”, escreveu o relator do caso no conselho, Luiz Fernando Bandeira de Mello.

Nenhum procedimento foi instaurado para apurar a conduta de De Mattos, que se afastou da operação logo depois da confissão, apresentando um atestado médico.

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) é o órgão encarregado de controlar e fiscalizar a atuação dos integrantes do Ministério Público nacional e de seus membros. Integrantes do CNMP já pediram que a conduta de Deltan Dallagnol e outros procuradores seja investigada, mas o conselho ainda não se convenceu de que servidores do MPF prevaricaram.

Para entender a gravidade desse caso, especificamente, compare-se com o Conselho Federal de Medicina ter a confissão de que um médico cometeu um erro, prejudicando um paciente, e mesmo assim ter acobertado o erro desse profissional. O CNMP teve uma confissão de culpa de Diogo Castor de Mattos, e não agiu para puni-lo.

O conselho é presidido pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e composto por outros 13 membros: quatro provenientes do Ministério Público Federal; três dos MPs estaduais; dois juízes, indicados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ); dois advogados indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); e dois cidadãos de notório saber jurídico, indicados pela Câmara e pelo Senado.

Leia a reportagem completa do The Intercept Brasil 
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O outdoor autopromocional e ilegal, mas que não rendeu nenhuma punição ao seu autor