#VazaJato

Lava Jato tramou impeachment de Gilmar Mendes, ‘brocha institucional’, segundo Dallagnol

Resultado das eleições no Senado animou procuradores a derrubarem o ministro. Como alternativa ao afastamento, cogitaram convocar o ministro para levar "puxão de orelha"

Valter Campanato/Agencia Brasil
Valter Campanato/Agencia Brasil
Ministro criticou pacote de medidas proposto pelo MP como "completamente nazifascistas" e "coisa de tarado institucional"

São Paulo – Os procuradores da Operação Lava Jato tentaram articular o afastamento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, após o resultado das últimas eleições. Com 24 novos senadores eleitos entre as 32 vagas em disputa, no ano passado, os membros do Ministério Público chegaram a fazer contas sobre os votos necessários para encaminhar o pedido de impeachment de Mendes, que demandaria o apoio de ao menos dois terços do plenário do Senado para ser aprovado. Eles também cogitaram negociar a convocação do ministro para um “puxão de orelha” público pelos parlamentares.

As tramas dos procuradores foram reveladas em mais uma reportagem série da Vaza Jato, desta vez publicada pelo portal Uol, nesta quinta-feira (8), em parceria com o The Intercept Brasil. Na matéria, revela-se também que o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, se irritou com críticas de Gilmar Mendes ao projeto intitulado Dez Medidas contra a Corrupção.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em junho de 2018, o ministro classificou as medidas como “completamente nazifascistas” e “coisa de tarado institucional”. “Vou responder dizendo que Gilmar é um brocha institucional”, afirmou Dallagnol a colegas que participavam do grupo privado Filhos do Januário 2, no Telegram.

As conversas são reproduzidas conforme os originais, com eventuais erros de ortografia ou digitação.

Impeachment ou convocação

Na noite do primeiro turno das eleições, após a divulgação dos resultados, os procuradores comemoraram. “Lava Jato saiu vitoriosa”, disse Diogo Castor. Na sequência, acrescentou: “Da pra sonhar com impeachment do gm?”, em referência os ministro do STF. Laura Tessler demonstrou menos otimismo. “Sonhar sempre pode, Diogo. Mas não tem chance de se concretizar”.

No dia seguinte, Dallagnol voltou ao tema: “No Senado, dos 32 que tentaram renovar seus mandatos, 8 conseguiram. Recado explicito de insatisfação.” O colega Paulo Roberto Galvão, então, se animou, afirmando que “agora sim, pela primeira vez é possível sim de se pensar em costurar um impeachment de Gilmar”.

Tentando acalmar o entusiasmo dos colegas, o procurador Orlando Martello Junior dizia que o impeachment era “impossível”. “Talvez costurar um pedido de convocação, em q ele fique exposto, com cobranças, puxão de orelha e coisa e tal, é mais factível”, já que o pedido de convocação demandaria apoio menor dos senadores.

Na mira

Nesta semana, a série de reportagens da Vaza Jato também revelou que Dallagnol utilizou o partido Rede, em articulação com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para mover uma ação no STF contra Mendes, extrapolando suas competências como procurador. Os integrantes da força-tarefa também se mobilizaram para investigar o ministro, sugerindo a cooperação com órgãos de investigação na Suíça, buscando alguma ligação com Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador financeiro do PSDB e preso pela Lava Jato.

Investigações contra ministros do STF são prerrogativas exclusivas da Procuradoria-Geral da República (PGR), e não de procuradores que atuam na primeira instância da Justiça Federal.