Contraditório

Bolsonaro inventa inimigos externos para aglutinar apoio interno

Depois de rejeitar repasse internacional por "riscos à soberania brasileira", governo recua e diz aceitar ajuda contra incêndios se presidente da França "retirar insultos"

São Paulo – Os chefes de Estado e de governo do G7 concordaram quanto ao envio de US$ 20 milhões, pouco menos de R$ 83 milhões, de ajuda emergencial para combater os incêndios na Amazônia, durante encontro das sete maiores economias do planeta, encerrado nesta segunda-feira (26), em Biarritz, na França. De acordo com agências internacionais, Alemanha, Reino Unido, Itália, Canadá, Japão, Estados Unidos e França, além da União Europeia querem também providenciar aviões para prestar apoio emergencial. O plano inclui elaborar um projeto de reflorestamento com auxílio da ONU.

As providências propostas, no entanto, ficaram de fora do documento final do encontro entre as maiores economias do planeta. Isso porque “a diplomacia estadunidense não se mostrou interessada em criar conflitos com o atual governo brasileiro”, avalia o consultor em Relações Internacionais (RI) Kield Jakobsen em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

O grande atrito decorrente do aumento de desmatamento e do número de focos de incêndio espalhados pela Amazônia na semana passada, está sendo protagonizado pelos presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron, da França, que fez críticas à atual postura do Brasil quanto às políticas ambientais, ao que o presidente brasileiro rebateu ofensas de ordem pessoal e machistas.

Mesmo com a verba emergencial anunciada, o Palácio do Planalto emitiu um comunicado, na noite desta segunda (26), afirmando que iria rejeitar a ajuda externa, alegando “defesa da soberania”. Mas, já nesta terça-feira, o presidente deu sinais de recuar da decisão e disse que poderá receber o montante se forem retirados “os insultos que (Macron) fez a ele”.

“Essa narrativa pseudo-soberanista é um verniz, porque quando o presidente da República fala em explorar a floresta amazônica, permitir garimpo e mineração, a exploração de madeiras desenfreada e o agronegócio, nós não estamos falando apenas de favorecimento ao capital brasileiro, às empresas brasileiras, estamos falando de favorecimento às empresas multinacionais, que vêm do exterior para tirar proveito dessa situação”, rebate o consultor, descrevendo Bolsonaro como um “nacionalista na retórica” mas “absolutamente entreguista quando se trata de favorecer as empresas”.

Para Jakobsen, o presidente brasileiro “faz exatamente o que (Donald) Trump e outros fazem: precisam arrumar um inimigo externo para aglutinar apoio interno”, o que pode por outro lado beneficiar o próprio Macron. “Bolsonaro é uma figura mal vista”.

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