Rejeição explícita

Bolsonaro está ‘derretendo’ nas pesquisas e até entre ex-aliados das eleições de 2018

“Ele vai  perdendo apoiadores e votantes dele, e estão aí também as pesquisas mostrando isso”, diz deputado Ivan Valente. “Os danos ocorridos neste ano na Amazônia podem ser vistos como consequência de declarações irresponsáveis de Bolsonaro”, diz jurista

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Em plena crise ambiental, presidente brasileiro se reuniu com governadores e atacou terras indígenas

São Paulo – A popularidade do presidente Jair Bolsonaro não para de cair, mas não apenas em pesquisas de opinião como a divulgada pelo instituto MDA com a Confederação Nacional do Transporte (CNT) nesta segunda-feira. De acordo com o estudo, a rejeição ao desempenho pessoal do chefe do Executivo já atinge 53,7%. A evolução das pesquisas se reflete nas redes sociais. Sem contar a oposição, aliados de primeira hora de Bolsonaro nas eleições de 2018 já abandonam o barco, casos do deputado federal Alexandre Frota, que foi expulso do PSL e se bandeou para o PSDB. “Lições são para serem aprendidas e vividas .#forabolsonaro Quero longe de mim. Chega basta é hora do couro comer”, escreveu  no Twitter nesta terça-feira (27).

“Engraçado, Bolsonaro fala do quanto foi gasto com as palestras do Merval, mas não fala das rachadinhas assumidas pelo Queiroz, também não fala onde está o Queiroz”, acrescentou Frota. O cantor e compositor Lobão, feroz antipetista e apoiador do atual presidente, também é explícito. “Bolsonaro não neve prosseguir presidente”, declarou em seu perfil. Em maio, ele já havia dito que o mandatário “não me representa”.

“Certamente ele está perdendo apoio, está derretendo. Mas a velocidade disso não dá para saber”, diz o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP). Após a saída de Frota, dois outros deputados do PSL ameaçam deixar a sigla, Bibo Nunes (RS) e Alê Silva (MG). “Outra coisa é que apresentadores como Danilo Gentili, um bolsonarista de primeira hora e está saindo fora.”

Movimentos como o de Gentili – que atacou a tentativa de Bolsonaro de emplacar seu filho Eduardo como embaixador em Washington – são clara reação à queda de popularidade do presidente. “Ele vai  perdendo apoiadores e votantes dele, e estão aí também as pesquisas mostrando isso”, afirma o parlamentar.

Para Valente, talvez na questão do meio ambiente tenha se dado o maior desgaste de Bolsonaro, assim como contestar o Inpe e a ciência. “Todas as  declarações e atitudes dele são extremamente desgastantes, num país em que 90% das pessoas apoiam a preservação da Amazônia”, diz. “Agora mesmo ele encontrou os governadores e defendeu fazer mineração nas terras indígenas. Isso não existe, falar essa besteira no meio de uma crise. Mas não dá para prever até onde ele vai conseguir não tropeçar nas próprias pernas.”

Porém, para Valente, essa avaliação não quer dizer que “ele vai cair no dia seguinte”, já que o presidente da República conta com uma base social de 20% a 25% de “bolsonaristas irracionais”. Se, para o parlamentar, Bolsonaro tenta consolidar “a área que é dele, a do preconceito, do ódio e da intolerância, tudo isso e o desgaste pode ter daqui a pouco um efeito mais corrosivo”.

Não apenas a figura de Bolsonaro é cada vez mais rejeitada, mas seu governo é avaliado como ruim ou péssimo por 39,5% dos entrevistados, contra apenas 19% em fevereiro, segundo a pesquisa MDA/CNT.

Por sua vez, o presidente brasileiro fornece munição à oposição brasileira e a antipatizantes em todo o mundo, como no caso de seu ataque à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, que provocou reação de mulheres brasileiras. Com a hashtag #DesculpaBrigitte, elas alcançaram os trending topics do Twitter no Brasil.

Os movimentos contra a insensatez de Bolsonaro são crescentes. Na Espanha, o chefe de Estado brasileiro é chamado de “criminoso ambiental”. Segundo o portal alemão Deutsche Welle, um grupo de juristas brasileiros prepara uma denúncia do presidente por crime ambiental contra a humanidade, que será levada ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda. A jurista Eloísa Machado, uma das articuladoras da petição, diz que “os danos ocorridos neste ano na Amazônia podem ser vistos como consequência de declarações irresponsáveis de Bolsonaro”.

Indignação e perplexidade

Do lado da oposição e vozes progressistas no Brasil, o comportamento de Bolsonaro causa indignação e perplexidade. “O povo brasileiro está passando vergonha diante do mundo inteiro por ter um presidente desastroso. Aos seus cada vez mais raros apoiadores, Bolsonaro vende-se como forte que está enfrentando poderosos”, disse a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) no Twitter. “Na realidade, está fazendo um papelão internacional que só prejudica o Brasil”, acrescentou.

A jornalista Milly Lacombe se manifestou contrária à ideia de “dar as mãos para quem votou” em Bolsonaro. “Francamente, quero que se danem. Não nasci para Gandhi. Quem nasceu que faça essa parte. Eu tô aqui ninando meu ódio mais profundo por todos os que não apertaram 13. Gente estúpida”, desabafou.

Em matéria sobre a disputa verbal entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron, iniciada em razão da questão amazônica, o diário britânico The Guardian classifica o brasileiro como “presidente de extrema-direita do Brasil” e afirma que ele é acusado de “dar sinal verde a uma nova era de destruição ambiental e de ser parcialmente responsável pela escala da estação de queimadas na Amazônia deste ano”.