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‘Uma honraria’, diz Flávio Dino sobre ser ‘o pior governador dos ‘paraíbas” na avaliação de Bolsonaro

Governador do Maranhão diz que presidente tem coração "possuído de ódios" e que, além de ter ofendido os nordestinos, pode ter cometido crime de responsabilidade

Valter Campanato/ABr e Isac Nóbrega/PR
Valter Campanato/ABr e Isac Nóbrega/PR
“Ser perseguido pelo Bolsonaro é uma honraria para mim. É um selo de qualidade. Vou colocar até no meu currículo lattes”, disse Flávio Dino

São Paulo – Ouvido pelo jornal Folha de S.Paulo, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), respondeu que é “uma honraria” ser chamado por Jair Bolsonaro de “pior governador” do Nordeste. “A cabeça dele é movida pelo confronto, e o coração, infelizmente, está possuído de ódios. Só sei que sou o pior dos gestores na visão dele, o que para mim é uma honraria”, afirmou Dino.

Vídeo divulgado na sexta-feira (19) mostra o presidente escancarando preconceito ao chamar todos os estados nordestinos, de forma pejorativa, de “paraíbas” e fazendo referência direta a Dino: “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, disse o presidente. Sem perceber que estava sendo gravado, Bolsonaro falava com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, minutos antes de uma entrevista coletiva.

À Folha, Dino disse ainda que ele e os demais governadores da região vão aguardar manifestação do Planalto sobre as declarações de Bolsonaro para avaliarem que medidas podem vir a tomar. “Como não conhecemos o contexto, fica até difícil entender.”

O governador, que foi juiz federal e presidente da associação de magistrados, afirmou que, confirmada a referência pejorativa à região, Bolsonaro pode ter incorrido em crime de preconceito regional, equiparado ao de racismo e que há ainda, na ordem dada a Lorenzoni para “não ter nada para esse cara”, espaço para apontar desvio de finalidade na gestão por quebra de impessoalidade.

Em sua conta pessoal no Twitter, Flávio Dino afirma que espera explicações sobre as afirmações do presidente e que sua conduta é inconstitucional. “Neste vídeo, ouvi mais claramente o que disse o presidente da República. Parece chamar todos os nordestinos de ‘paraíba’ e me ameaça, com estranha raiva. Lamento e espero explicações, pois isso é algo realmente inédito e incompatível com a Constituição”, escreveu.

Impeachment?

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) também acha que Bolsonaro pode ter cometido crime de racismo e de responsabilidade, ao se referir a todos os nordestinos como “paraíbas”. E disse que pretende entrar com representação na Procuradoria-Geral da República contra o presidente. “Representarei à PGR para apurar cometimento de crime comum, neste caso crimes de ameaça, contra a honra e racismo (“paraíbas”). Irei analisar também a existência de crime de responsabilidade”, afirmou.

A quebra de decoro pode ter como consequência um processo de impeachment, caso se confirme o crime de responsabilidade.

No mesmo evento em que ofendeu os nordestinos, Bolsonaro afirmou que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira” e usou informações falsas ao falar da jornalista Míriam Leitão, que nesta semana teve sua participação em uma feira do livro em Santa Catarina cancelada pela organização, após intensa pressão de bolsonaristas.