Embaixaria

‘Pretendo beneficiar um filho meu, sim’, diz Bolsonaro

Presidente assume intenção de privilegiar o filho Eduardo Bolsonaro com embaixada nos EUA e manda recado aos eleitores que discordarem: "Quem diz que não vai votar mais em mim, paciência"

Eduardo Bolsonaro/Instragram
Eduardo Bolsonaro/Instragram
"É amigo dos filhos do Trump, fala inglês e espanhol, tem uma vivência muito grande no mundo", disse o presidente sobre o filho

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) reconheceu ontem (18) tratar-se de um privilégio pessoal e familiar a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo de embaixador nos Estados Unidos, durante a live que transmite pelas redes sociais às quintas-feiras. “Pretendo beneficiar filho meu, sim. Se eu puder dar um filé-mignon pro meu filho, eu dou, mas não tem nada a ver com o filé-mignon essa história aí. É aprofundar o relacionamento com a maior potência do mundo”, tentou justificar o presidente, que ainda desdenhou das críticas. “Quem diz que não vai votar mais em mim, paciência! Em algumas coisas, vou desagradar vocês.”

Ainda como tentativa de justificar o favorecimento explícito, o presidente disse que poderia ir além, e colocar o filho no lugar do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, já que essa indicação não precisaria contar com a aprovação dos senadores, como no caso da escolha das representações diplomáticas e, na sua visão, seria realmente um “favorecimento”. “Eu posso chegar hoje e falar: Ernesto Araújo (atual ministro) está fora, o Eduardo Bolsonaro vai ser ministro das Relações Exteriores. Ele vai ter sob seu comando mais de uma centena de embaixadas no mundo todo”, afirmou.

Bolsonaro afirmou que a indicação do filho para a embaixada não conta com impedimento legal algum, baseado em posicionamento da Controladoria-Geral da União (CGU). O órgão destaca a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal (STF), que aponta que só configuraria nepotismo a nomeação de parentes para cargos administrativos, e não políticos. Apesar da súmula, a questão ainda poderia ser revista pelo plenário da Corte.

“Você tem de ver o seguinte: é legal? É. Tem algum impedimento? Não tem impedimento. Atende ao interesse público, qual o grande papel do embaixador? Não é o bom relacionamento com o chefe de Estado daquele outro país? Atende isso? Atende. É simples o negócio”, disse ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã.

Ele não apenas naturalizou, como enalteceu a nomeação de parentes. “Imagina se o (presidente da Argentina, Mauricio) Macri tivesse um filho embaixador aqui”, exemplificou. “Eu atenderia agora ou pediria ao ajudante de ordem para marcar uma data futura? Atenderia agora”, disse o presidente, que alega que Eduardo Bolsonaro é íntimo dos filhos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Ele é amigo dos filhos do Trump, fala inglês e espanhol, tem uma vivência muito grande no mundo. Poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente”, afirmou Bolsonaro pai, na semana passada, quando confirmou pela primeira vez a possibilidade da escolha do filho para representar o Brasil frente aos norte-americanos.

Já o filho Eduardo destacou os atributos que o credenciariam para o posto. “Sou presidente da Comissão de Relações Exteriores (da Câmara), já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos”. Funcionários do governo brasileiro chegaram até a aventar a hipótese do filho de Trump ser nomeado embaixador no Brasil, repetindo e retribuindo a ação em família. A possibilidade foi descartada pelo porta-voz de Eric Trump como “nada mais que um rumor”.

A hipótese, cada vez mais concreta, da nomeação do filho do presidente vem causando reações entre diplomatas e especialistas, que temem pela desmoralização da representação do país no exterior.