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Moro não responde se PF investiga Glenn e ‘Intercept’; ação justificaria afastamento

Ouvido em audiência sobre escândalo da Vaza Jato, Moro não negou investigação contra jornalista responsável pela divulgação, Glenn Greenwald

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Moro seguiu na linha dúbia: sugerir que não reconhece o conteúdo das reportagens e, ao mesmo tempo, defender que não há nada de estranho em um juiz orientar a acusação

São Paulo – O ministro Sergio Moro não negou, em audiência pública na Câmara dos Deputados realizada hoje (2), que o jornalista Glenn Greenwald está sendo investigado após ter divulgado o escândalo conhecido como Vaza Jato. A Polícia Federal, sob comando de Moro, teria pedido ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) um relatório de atividades financeiras do profissional de imprensa.

O ataque contra Glenn vem depois de ele demonstrar, com documentos, que Moro, quando juiz federal, atuou de maneira promíscua durante processos da Operação Lava Jato. As revelações dão conta de o ex-juiz chefiou a força-tarefa, orientando procuradores (acusadores) a como melhor proceder com a finalidade de condenar o réu, Lula, de acordo com orientação política.

O ato foi encarado como um atentado contra a liberdade de imprensa. “Eles não estão nem mesmo escondendo seu abuso de poder para retaliar jornalistas”, disse Glenn.

Hacker aqui

Durante a audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Moro disse que defende a liberdade de imprensa e deu a entender que Glenn Greenwald estaria sendo investigado dentro do contexto de ações de hackers, que teriam obtido o material das reportagens.

O deputado federal Marcio Jerry (PCdoB-MA) afirmou ser de “extrema gravidade” ter questionado depoente sobre a notícia e não ter obtido resposta – uma vez que a Polícia Federal responde ao ministro. Sua colega do Psol gaúcho Fernanda Melchionna reagiu indignada: “Não é aceitável isso. Esperava que o senhor desmentisse. É grave que a PF tenha determinado ao Coaf uma investigação contra o Glenn. O senhor maculou e manchou a luta necessária contra a corrupção, tendo sido seletivo e parcial, com objetivo político, e agora toma esse caminho”.

Ela afirmou que o caminho de Moro é sem volta. “Não é aceitável esse caminho. O senhor aceitou ser ministro de um governo da extrema-direita. E foi criticado por procuradores do próprio MPF. Trilhando esse caminho que tem a ver com ameaças, fake news. Tem senador ameaçado pela rede de ódio das redes sociais. Agora, perseguir imprensa? Liberdade de imprensa é resguardada por tratados internacionais. O senhor tem que parar imediatamente de atacar a imprensa.”

Duas caras

Outros deputados bolsonaristas também atacaram o jornalista e a liberdade de imprensa. Pediram que Glenn entregasse o conteúdo de seu trabalho à polícia, atacaram seu marido, o deputado David Miranda (Psol-RJ), disseram que eles teriam relação com espiões russos, cubanos, entre outros devaneios. Miranda respondeu em sua defesa e de Glenn: “Meu marido fez um trabalho impecável antes, e continua fazendo agora”.

Mesmo a titular da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, Professora Marcivânia (PCdoB-AP), que foi uma das comissões que organizou a audiência, defendeu a liberdade de imprensa em sua fala. “Diga, ministro, em que país democrático, um jornalista que obteve informações de interesse público é obrigado a entregar sua fonte? O modo como foi conseguido as informações não é responsabilidade do jornalista. A responsabilidade é investigar se as informações são autênticas e publicá-las.

Moro seguiu na linha dúbia: sugerir que não reconhece o conteúdo das reportagens e, ao mesmo tempo, defender que não há nada de estranho em um juiz orientar a acusação.

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