pediu arrego

Moro se licencia do cargo por uma semana. ‘A casa caiu’, diz Paulo Pimenta

Ministro sairá de licença não remunerada do cargo para tratar de assuntos particulares, na próxima semana

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
Para deputados da oposição, Moro está se escondendo, após as denúncias de ilegalidades cometidas enquanto juiz da Operação Lava Jato

São Paulo – Alvo de diversas denúncias feitas pelo The Intercept, o ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu licença não remunerada do cargo ‘para tratar de assuntos particulares’. O afastamento, entre os dias 15 e 19, foi concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Para deputados da oposição, Moro está se escondendo, após as denúncias de ilegalidades cometidas enquanto juiz da Operação Lava Jato. A bancada do PT, por exemplo, questionou o que está por trás do afastamento. “É esquisito. A casa está caindo para ele. Se avolumam as denúncias e suspeitas de que ele agiu de maneira ilegal e pede para tirar uns dias. O que está por trás disso?”, questionou o deputado federal Paulo Pimenta (RS).

Por ter assumido o cargo em janeiro, Moro não tem direito a férias e utilizou o recurso da licença. Durante a ausência de Moro, o secretário-executivo, Luiz Pontel, responderá interinamente pelo ministério.

No último domingo, o The Intercept Brasil e o jornal Folha de S.Paulo divulgaram novos diálogos de Sergio Moro com procuradores da Lava Jato, que indicam uma articulação do ex-juiz federal para vazar dados da delação da Odebrecht sobre a Venezuela, que estava sob sigilo.

A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), ironizou em sua conta no Twitter: “Moro vai tirar férias? Como assim, não tem nem um ano de serviço. Ou vai se afastar para ser investigado, o que seria correto?”, questiona. Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) destaca que Moro tira férias em meio ao bombardeio da Vaza Jato. “O ministro tem seis meses de trabalho à frente da pasta e já quer férias? Num era o Bolsonaro que dizia que trabalhadores tinham que escolher entre emprego ou direitos?”, provocou.

Recentemente, em entrevista ao Sul21, Lula sugeriu que o ministro da Justiça pedisse afastamento temporário. “Enquanto está sob suspeita, o Moro poderia pedir licença do Ministério da Justiça, e não ficar se escondendo atrás do cargo. Se ele mentiu, precisa ter coragem de assumir o que fez”, disse o ex-presidente.

Escândalo em novo patamar

Em artigo publicado na Revista Cult, nesta segunda-feira, o juiz de Direito e escritor Marcelo Semer diz que as últimas novidades dos vazamentos envolvendo Moro colocam a Vaza Jato em um novo patamar, aumentando a crise envolvendo o ministro. “As conversas levantadas na última reportagem são aterradoras”, diz.

Para ele, a postura de Moro e Deltan mostram que os diálogos não são falsos – eles afirma que as conversas foram adquiridas de “maneira ilegitima” e o conteúdo é “normal”. “Seria um tapa na cara dos juízes e promotores brasileiros dizer que tais comportamentos são normais, rotineiros, cotidianos”, criticou Semer, ao narrar as ações entre o promotor da Lava Jato e Moro. “Se essas comunicações fossem normais, em primeiro lugar, seriam públicas, não reservadas. A reserva, em um instrumento que não é acessível à defesa, mostra que o princípio da publicidade foi o primeiro a ser estilhaçado”, acrescentou ele.

De acordo com o juiz, é impossível assistir em silêncio a “essa afronta como forma de defesa”: a transferência da suspeita de parcialidade dos flagrados na conversa sigilosa a todos os juízes e promotores do país. “Ao mostrar um juiz que dá ordens a todos, que se articula para além de suas competências, que compartilha suas angústias com um dos lados em julgamento, ao qual adere, a situação expõe a todos e fragiliza enormemente a própria ideia de justiça. Normalizar a perversão é fazer pouco da integridade dos milhares de juízes brasileiros”, finalizou Marcelo.

Leia também

Últimas notícias